Prefeito lança programa Mojubá e defende o respeito às diferenças como princípio da igualdade
O lançamento aconteceu na Galeria de Artes Álvaro Santos no dia em que se celebra a divindade Oxum, Nossa Senhora da Conceição para a igreja Católica, padroeira de Aracaju. “Esta cidade foi erguida com o trabalho essencial dos africanos e seus descendentes, que souberam reagir às agressões sofridas na escravidão sem abrir mão do amor à nova terra. Precisamos compreender que a questão racial no Brasil não está resolvida e seria um crime contra a humanidade silenciarmos diante das tentativas elitistas de calar as religiões africanas”, defendeu o prefeito.
O projeto Mojubá, termo usado como saudação em Iorubá, vai atingir duas mil escolas brasileiras em 2006 e será implantando com o auxílio de mais de quatro mil professores. Realizado conjuntamente com a Petrobras, o Centro Brasileiro de Informação de Documentação do Artista Negro (Cidan), a Rede Globo e o Canal Futura, o projeto é uma das etapas de cumprimento efetivo da lei 10.639, primeira assinada pelo presidente Lula depois de tomar posse em 2001, que institui o ensino da cultura afro-brasileira nas instituições educativas do país.
“A cultura é eixo fundamental para enfrentar o debate do direito dos negros no Brasil. A pior parte do preconceito que existe hoje não é nem o seu afloramento, porque contra este nós temos meios concretos e legais de lutar, mas é quando o próprio oprimido incorpora o preconceito contra ele”, opinou o prefeito. “As sociedades só serão iguais quando reconhecerem suas diferenças. No Brasil, a igualdade será a soma e o reconhecimento democrático das diferenças”.
Marcelo Déda classificou de “essencial e indiscutível” a contribuição dos negros para a música e as artes brasileiras de forma geral, e aproveitou para elogiar a iniciativa do presidente Lula ao criar a Seppir. “É o reconhecimento concreto de que ainda há muito a se fazer”, avaliou, ressaltando o esforço similar que a Prefeitura de Aracaju fez nesse sentido ao criar sua própria Assessoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, dirigida por Djenal Nobre.
O exemplo de Aracaju
O sub-secretário de Planejamento e Formulação de Políticas Públicas da Seppir, Antônio Pinto, representou a ministra Matilde Ribeiro, que não veio a Aracaju conforme estava previsto porque foi convocada pelo presidente Lula para uma reunião ministerial hoje. “Enquanto começa a surgir no Brasil a intolerância religiosa declarada, Aracaju vive hoje um momento mágico de construção da tolerância”, afirmou numa referência à lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana de Aracaju, realizada minutos antes do lançamento do Mojubá.
A decisão da Prefeitura de Aracaju ao apoiar as manifestações religiosas de matriz africana desde o início da gestão do prefeito Marcelo Déda em 2001 foi ressaltada pelo sub-secretário de Comunidades Tradicionais da Seppir, Carlos Trindade. Ele informou ainda que as Casas de Santo aracajuanas já mobilizaram aproximadamente 900 mulheres (Iabas) para a manifestação cultural que acontecerá logo mais à noite na orla de Atalaia, com a participação do grupo Ilê Aiyê.
Para os atores Antônio Pompeu e Ana Paula Brandão, respectivos representantes do Cidan e da Fundação Roberto Marinho (Canal Futura) presentes no lançamento em Aracaju, o projeto Mojubá é a concretização de mais um sonho na luta pelo fim do preconceito racial. O representante da Petrobras, Fernando Francisca, falou sobre a lei 10.639 e enfatizou: “ela vai mudar o conceito que a sociedade e os próprios negros têm de si mesmos”.
A prefeitura cumpre seu papel
Desde 2001 a administração municipal tem tomado decisões importantes para a valorização da cultura negra em Aracaju. No primeiro ano de sua primeira gestão, o prefeito Marcelo Déda e sua equipe homenagearam o Abacá São Jorge pelo seu centenário. Em 8 de março de mesmo ano as mulheres sergipanas foram homenageadas sob a representação feminina de 25 sacerdotisas das religiões afro-brasileiras da cidade.
Neste período a prefeitura criou ainda a lei de isenção fiscal para todas as casas de práticas religiosas. Mesmo antes de integrar a equipe que hoje comanda os destinos da capital, ainda quando vereador, o vice-prefeito Edvaldo Nogueira apresentou um projeto de lei para levar a cultura negra às escolas brasileiras.
Além dele e das autoridades já citadas, participaram do lançamento do programa Mojubá em Aracaju a deputada estadual Ana Lúcia, autora do projeto que concedeu na última terça-feira à Mãe de Santo Marizete a medalha da Ordem do Mérito Parlamentar; as vereadoras Conceição Vieira e Tânia Soares, secretários municipais e representantes do movimento de afro-descendentes em Sergipe.[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text]
- Prefeito lança programa Mojubá e defende o respeito às diferenças como princípio da igualdade – Fotos: Márcio Dantas