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* Todos os nomes dos adolescentes que estão nesta matéria são fictícios

Aos 17 anos, Pedro* carrega uma ficha extensa. Acusado de tráfico de drogas, quebra de medida, arrombamento e homicídio, o adolescente em conflito com a lei está na Unidade Sócio-Educativa de Internação Provisória (Usip) de Sergipe. Vindo do município de Salgado, o rapaz ainda não recebeu nenhuma visita da família. Enquanto aguarda ser julgado, ele faz seus próprios julgamentos sobre a unidade em que está há dez meses.

"Olhe, eu cheguei aqui já tem tempo e sei que a Usip está diferente. Logo que entrei, a gente passava o dia todo trancado e de vez em quando ia para a quadra. Hoje há muitas atividades", contou o menino, no intervalo da partida de futebol de salão. Com a rotina dividida entre atividades desportivas, aulas de informática e atividades culturais, os adolescentes das quatro unidades de medidas sócio-educativas estão contando com rotina de atividades e obrigações inéditas.

Carla*, 18, chegou na Unidade Sócio-educativa Feminina em agosto, depois de ter praticado assaltados a caminhões. Para trás ficou o filho de apenas um ano, cujo nome está tatuado em sua mão. "O que eu mais quero é ver meu filho crescer, poder trabalhar e deixar essa vida. Deus me livre voltar. Sinto muita saudade do meu menino", disse.

Entre as aulas curriculares, de hip hop, de dança e expressão corporal oferecidas pela unidade, Carla descobriu a vocação: ser professora de artes. "Isso aqui não tinha nada para fazer, hoje tem muita coisa. Eu tinha parado meus estudos desde os 16 anos. Foi aqui que voltei a estudar. Quando sair quero ter uma oportunidade", falou Carla depois de assistir ao filme ‘O Auto da Compadecida’ e antes de iniciar a aula de bordado.

Trabalho

Desenvolvido com diálogo e união, o trabalho vem sendo unificado nas quatro unidades: Unidade Sócio-educativa de Internação Provisória, Unidade Sócio-educativa Feminina, Unidade de Semi-liberdade e Centro de Atendimento ao Menor (Cenam). Há seis meses à frente da direção de Medidas Sócio-Educativas da Fundação Renascer, órgão responsável por essas unidades, o tenente-coronel Henrique Rocha explicou que as mudanças vieram a partir do compromisso do Governo de Sergipe.

"O Governo do Estado assumiu o compromisso com a mudança das unidades. Temos apoio para desenvolver atividades. Inicialmente, foram feitos investimentos na segurança do local e na qualificação dos profissionais. Com isso, foi possível fazer as outras atividades", disse o diretor.

A tenente Manuela Gomes, diretora da Unidade Feminina, explicou que um fator primordial para o desenvolvimento do trabalho foi a implantação de um rotina. "Após fazermos um estudo da unidade, implantamos a rotina diária das meninas. Pode parecer simples, mas não existia qualquer rotina. Elas não tinham horário para acordar, nem para desenvolverm atividades. Claro que ainda existem problemas, mas hoje elas incorporam noção de respeito e disciplina e já fazem, por exemplo, a própria escala de faxina dos dormitórios".

O diretor da Usip, capitão Sydnei Barbosa, também já vê resultados do trabalho desenvolvido. "Não tem rebelião na Usip e no Cenam desde outubro do ano passado. Um dos motivos é que o tempo de confinamento diminuiu drasticamente. No dia 7 de março, por exemplo, foi realizado o I Torneio da Amizade de Futebol, além das atividades que eles têm diariamente", relatou o capitão.

Segundo o tenente-coronel Rocha, a conquista da confiança dos socioeducandos é fundamental para o desenvolvimento do trabalho. "Eles precisam confiar no Estado que está aqui dentro representado pelos psicólogos, médicos, assistentes sociais, educadores e todos os demais, para que possamos efetivar um trabalho sério com compromisso e respeito à dignidade dos adolescentes".

"Hoje, esses adolescentes não estão aqui só cumprindo uma etapa da vida. Eles estão aqui passando por uma fase, já que eles têm uma dívida com a sociedade e a Justiça impõe isso, mas eles estão passando com dignidade e com oportunidade que muitas vezes não tiveram lá fora", finalizou o tenente-coronel.

Sonhos

Apesar dos 18 anos e dos dois anos e dez meses cumprindo a medida sócio-educadiva no Cenam por arrombamento, Ricardo* é dono de um rosto e uma timidez quase que infantis. Com poucas palavras, ele resumiu o que espera quando cumprir os três anos de internação. "Quero trabalhar com dignidade".

Cumprindo a medida por furto há cinco, Adriana* havia parado de estudar bem antes de chegar à unidade. A adolescente, que não conheceu o pai e foi criada pela avó, completará 16 anos em maio. Análises e planos não faltam para quando ela sair da unidade. "Andava pela rua, não fazia nada. Aqui retomei meus estudos e aprendi até a bordar. Mas o que eu quero ser mesmo é repórter", disse a menina.

* Todos os nomes dos adolescentes que estão nesta matéria são fictícios

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