Ciência e sabedoria popular criam projetos que geram renda em povoados de Brejo Grande

A união de conhecimento científico à sabedoria popular está transformando a realidade social de algumas comunidades de Brejo Grande, localizada próximo às margens do rio São Francisco. A parceria entre população e pesquisador é fruto do projeto do programa de Tecnologias Sociais, apoiado pela Fundação de Apoio á Pesquisa e à Inovação Tecnológica (Fapitec/SE), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedetec). E projetos surgem como alternativas de renda abrangendo os povoados de Brejão dos Negros e Saramém.

Esse tipo de edital tem por objetivo dar suporte financeiro à execução de projetos apresentados por pesquisadores para geração de renda nos municípios sergipanos. “Na Fapitec/SE, o edital de Tecnologias Sociais tem como foco a geração de renda. Essa ação representa uma oportunidade para as comunidades desenvolverem uma alternativa que gere recursos e inclusão social pela participação integrada das famílias no projeto”, afirma o presidente da fundação, Ricardo Santana. Ainda segundo ele, é importante para o pesquisador porque é um meio para desenvolver a transferência de tecnologia, mantendo uma interação direta com a localidade envolvida.

O povoado de Brejão dos Negros oferece poucas oportunidades de emprego. As principais atividades econômicas são a pesca e a cata do caranguejo. Os jovens da região, para buscar uma vida melhor, precisam migrar para outras cidades. O ex-catador de caranguejo, Magno Santos, foi um dos que preferiu ficar na região. Hoje, possui um apiário, tem uma renda mensal e estuda Biologia à distância. Ele é apenas um dos muitos beneficiados pelos projetos de apicultura.

O primeiro projeto aprovado de Tecnologias Sociais coordenado pelo pesquisador Edílson Divino, da UFS, teve por objetivo desenvolver a coleta do pólen.  Nesse segundo, a meta é implementar a atividade de meniponicultura no povoado, utilizando colônias de abelhas sem ferrão (mandasaias) capturadas de coqueiros. Outra linha do projeto é o manejo das abelhas e a geração de renda familiar através da transferência de tecnologia e ações de educação ambiental. “Com este projeto, queremos realizar um intercâmbio com as escolas para visitarem o meliponário. Eles poderão conhecer na casa Mandasaia parte da confecção das caixas e exposição de abelhas, acrescentando informações e ilustrações à matéria de biologia. Queremos realizar uma extensão entre o projeto e a escola”, afirmou Yzila Araújo, membro da equipe.

Um novo projeto de apicultura está sendo desenvolvido em Brejão dos Negros. Segundo a coordenadora, Juliana Cordeiro do ITP, o objetivo é implantar um apiário para produção de própolis vermelha na região do Baixo São Francisco. Além de contribuir para fortalecimento da apicultura, essa atividade incentiva o uso sustentável dos recursos naturais pela comunidade, gerando renda.  Esta variedade de própolis tem se mostrado promissora para área farmacêutica por ser natural e conter propriedades terapêuticas.  Foi investido aproximadamente R$ 27 mil para compra de equipamentos com recursos oriundos do edital.

A comercialização do pólen não está restrita a Sergipe. Estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, dentre outros, têm comprado o pólen sergipano principalmente pela qualidade e conservação das propriedades do produto. A professora de Matemática Jucilene Santana, também montou um apiário e participa de congressos para divulgar o produto produzido por eles. “No último congresso levei quase 300 kg de pólen, e no primeiro dia vendi quase tudo”, disse a apicultora.

Um dos frutos do reconhecimento das atividades de apicultura desenvolvidas em Brejo Grande é a premiação na categoria Negócios Coletivos pelo Sebrae/SE. A Associação Brejo Grandense de Criadores de Abelhas e Artesões (Abeca) será premiada no Seminário Regional em Busca da Excelência, que acontece no dia 9 de novembro, no Hotel Quality.

Doces de Saramém

A principal atividade econômica no povoado Saramém, em Brejo Grande, é a pesca, entretanto o lugar apresenta vocação também para o trabalho artesanal, como culinária de doces.  Com o Edital de Tecnologias Sociais da Fapitec/SE, foi montada uma cooperativa de doces para padronizar, cria embalagens e promover inclusão digital dos participantes.

Através do projeto, coordenado pelo pesquisador Álvaro Silva Lima do ITP, as doceiras de Saramém deram continuidade ao projeto. O objetivo é padronizar os doces utilizando embalagens. “Os turistas que compram na Foz do São Francisco valorizam mais as cocadas na embalagem”, afirmou a doceira Maria Orlando. O pesquisador ainda ofereceu curso de informática e de embalagens para melhorar a apresentação e, consequentemente, as vendas.

As doceiras de Saramém já possuem espaços garantidos na Feira de Sergipe, de Artesanato e na Feira da Codevasp. Os principais produtos são queijada, cocadas de coco, amendoim, maracujá e leite condensado. “Hoje, temos um local de trabalho com higiene. Saímos de casa dizendo: ‘vou trabalhar’. Isso é gratificante”, afirmou Maria Orlando.  

“Elas perceberam que a sofisticação do material atraía os compradores. Então, começaram a produzir os doces nas embalagens para comercialização. Padronizamos cinco doces e desenvolvemos um com a casca do maracujá”, afirmou Álvaro.  O primeiro passo foi à implantação da estrutura para produção de doces. O segundo foi a padronização com as embalagens. A associação já possui o CNPJ e funciona como uma empresa de doces a todo vapor. A próxima meta, segundo a presidente da associação, é expandir a comercialização para outras regiões. Ao todo, foram investidos mais de R$ 50 mil nesses dois projetos aprovados.

Os projetos de apicultura em Brejão dos Negros e os doces de Saramém são um dos exemplos dos 11 projetos aprovados pelo edital de Tecnologias Sociais, apoiados pela Fapitec-SE. No total, foram investidos cerca de R$ 300 mil nos trabalhos selecionados a fim de gerar renda com inserção ou aprimoramento de tecnologias em diversas cidades sergipanas.