Camisinha Sempre
Fonte: Conversa afiada A inibição continua sendo um fator importante quando pesquisadas as resistências dos jovens ao consumo de preservativos. Também não é para menos: no Brasil, as farmácias e supermercados são praticamente os únicos "postos" de acesso à camisinha. E estes não são propriamente "points" para a adolescência. São locais onde o adolescente vai em companhia dos pais ou que exigem contato direto com o vendedor. Onde procurar camisinha E por que não no Brasil, onde é cada vez mais necessário transformar a camisinha num objeto do dia-a-dia? São poucas as experiências realizadas com máquinas em nosso país: a maior parcela delas ainda encontra resistência por parte da população, mas é uma experiência que vale à pena reforçar e multiplicar pelas cidades (leia na pág 2). Consequências: gravidez, Aids, DST No Brasil não existem estimativas oficiais sobre o consumo da preservativos. Mas segundo o Instituto Nielsen, teriam sido comercializados aqui, em 96, 166 milhões de camisinhas. Pouco mais da metade do que, para alguns especialistas, seria o real mercado nacional: 300 milhões de preservativos/ano. De qualquer forma, um número muito pequeno, diante de uma população sexualmente ativa avaliada em 102 milhões de pessoas (a média de 1996 estaria em apenas 1,63 relações seguras por ano).
Sugestão de Pauta
Ouvir os adolescentes sobre onde gostariam de comprar preservativos sem os habituais constrangimentos, pode ser uma história. Da mesma forma, ouvir os estabelecimentos comerciais ou até mesmo promover um debate entre jovens de associações comerciais podem gerar boas matérias. Outro aspecto importante: as empresas que fabricam e/ou vendem camisinhas no Brasil não parecem muito interessadas em brigar por este mercado diretamente junto aos consumidores potenciais – onde se destacam os adolescentes. Ao contrário do que acontece em outros países, é raro ver-se publicidade comercial de camisinha na grande mídia. Na boca do povo… As principais razões que os jovens apresentam para não usar preservativos, segundo reportagens publicadas pelos veículos teens nos últimos meses.
Os especialistas completam a lista:
Táticas de guerra para se viver num mundo com Aids >> Aids não tem cara. É ilusão querer avaliar se a pessoa está ou não infectada apenas por seu "bom astral" ou "boa aparência". Mesmo um teste de Aids negativo não é sinal de que a barra está limpa. O vírus pode estar presente por três meses no organismo sem que haja como detectá-lo. >> Por mais interessante que seja a pessoa, se ela sugere sexo sem camisinha está agindo irresponsavelmente consigo própria e envolvendo você neste jogo destrutivo. Publicações internacionais recentes sugerem que você deve reconhecê-la como um "inimigo". >> Uma péssima notícia: a bebida ajuda a descontrair e facilita o jogo de sedução, mas álcool e sexo seguro não combinam. O que todo mundo já sabe em relação ao carro, vale também para o instinto: você não o dirige bem quando os neurônios se encontram sob efeito etílico.
Quem fala sobre as máquinas de camisinha >> A Secretaria de Saúde de São Vicente-SP inaugurou em dezembro do ano passado sua primeira máquina de venda de camisinha – ao longo dos próximos meses este número deve chegar a 20 unidades (importadas da Alemanha). A cartela com três preservativos custa R$ 1,00 e o eventual lucro será revertido para o atendimento a pacientes com Aids e ONGs do setor. São Vicente vem se destacando pela qualidade de seu trabalho no campo da prevenção à Aids e é também a primeira cidade brasileira a iniciar a distribuição de preservativos femininos em seus postos de saúde. >> A Blausiegel Indústria e Comércio é atualmente a única empresa a comercializar máquinas de venda de camisinha no Brasil. Através de um contrato de locação de R$ 50,00 por mês é instalada a máquina, que vende três tipos diferentes de preservativos (a cartela com três unidades custa de R$ 1,50 a 2,50, em moedas). Metade deste valor corresponde ao custo dos preservativos. O restanto é o lucro do revendedor. As máquinas podem ser encontradas em casas noturnas e bares da cidade de São Paulo, em empresas como a Volkswagen e até mesmo na rodoviária da capital paulista. Nos próximos meses, a Blausiegel pretende ampliar sua atuação para outros estados.
Jovens, Aids e DST: uma questão de vulnerabilidade >> Atualmente, um em cada 100 adultos sexualmente ativos no planeta é portador do vírus de HIV. Destes portadores, 90% não sabem de sua infecção. >> O pico da incidência de Aids no Brasil situa-se na faixa etária dos 20 aos 34 anos. Como o período de incubação do vírus é longo, isto significa que a contaminação aconteceu, na maioria dos casos, na adolescência ou no início da vida adulta. >> Da mesma maneira, relatórios internacionais que registram significativo crescimento da doença na faixa etária de 20 a 25 anos, exigem urgência na implementação de programas efetivos destinados aos jovens. DST abre caminho >> No Brasil, as únicas DST que têm notificação compulsória em nível federal são a sifílis congênita e o próprio HIV. Isso resulta na quase inexistência de dados relativos às DST no país, o que impede o reconhecimento da real gravidade do problema e a elaboração de políticas consistentes para seu combate. >> Nos EUA, onde a sifílis e a gonorréia são doenças de notificação compulsória, estatísticas mostram que 1 em cada 6 adolescentes contrai uma DST por ano. Em especial aqueles de baixa renda, residentes nos centros urbanos. Mulheres: duplo risco >> As adolescentes são ainda mais vulneráveis do que as mulheres adultas, pois os órgãos genitais não estão totalmente desenvolvidos e seus mecanismos de defesa não se encontram em pleno funcionamento. >> Por isso os preservativos femininos representam um grande avanço: a mulher ganha muito mais autonomia, podendo assumir por completo a iniciativa do sexo seguro.
Pela camisinha segura >> O avanço nas técnicas de produção da camisinha vem transformando-a num produto extremamente resistente. Pesquisas recentes realizadas nos EUA demonstram que os reduzidos percentuais de rompimento apontados pelos consumidores se devem muito mais ao mau uso do que à qualidade dos produtos em si. >> A maior parte desses problemas está associada à utilização de lubrificantes à base de óleo, como a vaselina, que minam a resistência do látex (deve-se utilizar apenas lubrificantes à base de água) ou a danos causados por unhas ou anéis. Gravidez ou DST ocorrem também devido a manuseio incorreto, seja na colocação, seja na retirada da camisinha. >> Já no Brasil, o controle de qualidade das camisinhas precisa ser aprimorado. Oficialmente, todo o preservativo aqui comercializado deve apresentar na embalagem o selo do Inmetro – garantia de que a marca foi testada e aprovada. Mas pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor apontou que algumas marcas andavam burlando a lei: como o controle de qualidade é realizado apenas uma vez por ano, após receberem a aprovação do produto seus importadores passavam a comercializar camisinhas de qualidade inferior àquelas apresentadas para o teste.
Os maus alunos Deste universo, entretanto, apenas 36% dos garotos e 45% das garotas haviam utilizado preservativo na primeira relação sexual. Quando a pergunta era direcionada para a relação sexual mais recente, os números se invertiam: 64% dos rapazes haviam usado preservativo, contra somente 42% das moças. Quem não se comunica… Mas comunicação e franqueza são fundamentais para o sexo seguro: a pesquisa mostrou que entre os alunos que não haviam conversado com o parceiro sobre Aids no último mês, o risco de não usar camisinha era 2,5 maior do que entre os que colocaram o tema em discussão. (Fonte: Revista Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, vol. 1 – nº 1) Quem transa legal Projetos e entidade que rimama adolescência e prevenção GTPOS – Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual No período 89-92 o GTPOS foi responsável pela implantação – pioneira – de projetos de Orientação Sexual nas escolas municipais de São Paulo. A partir de 95, o projeto passou a contar com financiamento do Ministério da Saúde, sendo levado às redes de ensino de capitais como Florianópolis, Recife, Belo Horizonte e Goiânia. Projetos similares também vêm sendo implantados pelo grupo em escolas particulares da capital paulista e em outras redes municipais de ensino, financiadas pelos próprios interessados. Além disso, o GTPOS oferece uma série de cursos, vários deles voltados para a capacitação no trabalho de Orientação Sexual junto a adolescentes. Contato: Maria Aparecida Barbirato e Beth Gonçalves – (011) 822-8249 CRIA – Centro de Referência Integral de Adolescentes O eixo central das atividades do CRIA é o teatro feito com e para adolescentes. Porém as peças apresentadas pelo grupo – sempre seguidas de debates interativos com a platéia – mobilizam não só os jovens, como também os pais, os educadores e a comunidade em geral, abordando questões ligadas à cidadenia e à adolescência. Entre os trabalhos do CRIA destacam-se Quem descobriu o amor?, que discute sexualidade, educação e étnia, e Com Arte, Sem Aids, sobre DST e prevenção. Todos os textos são fruto de criação coletiva dos adolescentes, sendo apresentados em escolas da rede pública e privada de Salvador. Contato: Maria Eugênia Millet – (071) 322-1334 CEDUS – Centro de Educação Sexual O CEDUS é responsável pelo Projeto Educarte, que desde 1994 vem capacitando profissionais das unidades de educação e de saúde da cidade do Rio de Janeiro a levar Educação Sexual aos adolescentes. O Educarte vem também implantando Núcleos de Adolescentes Multiplicadores nas escolas cariocas. Nada menos de 24 Núcleos já se encontram em funcionamento, com resultados que suplantam as expectativas: a atuação conscientizadora destes jovens diante da sexualidade não se restringiu ao ambiente escolar, estendendo-se à suas comunidades. Boa parte dos Núcleos utiliza de recursos artísticos para dar seu recado aos alunos. Contato: Regina Mello eSheila Federici – (021) 242-4371 Associação Saúde e Família A Associação Saúde e Família é uma ONG dedicada a apoiar projetos de prevenção à Aids no país, vários deles com meninos de rua do Rio de Janeiro, a campanha "A vida é uma festa, mas a Aids não é brincadeira", do GAPA de Santos e a série de spots de rádio, utilizando rap e outros ritmos populares, criado pelo Cemina, do Rio, para estimular as adolescentes a exigir o uso de preservativos. Atualmente a ASF está mobilizando o país com abaixo-assinado que visa garantir a isenção de impostos para a camisinha, o que reduziria seu preço final em quase 30%. Contato: Maria Eugênia Fernandes – (011) 262-2022 Coordenação Nacional de DST e Aids Órgão do Ministério da Saúde, a Coordenação centraliza as ações federais ligadas à Aids, o que inclui àquela relativas à prevenção no âmbito da adolescência, como campanhas de estímulo ao uso da camisinha. A Coordenação também acompanha de perto os números da Aids no Brasil, contando com estatísticas por faixas etárias. Contato: Pedro Chequer – (061) 315-2146 INMETRO É o órgão responsável pelo controle de qualidade dos preservativos comercializados no país, sejam eles importados ou produzidos aqui. No momento, o Brasil está atualizando as normas técnicas de avaliação das camisinhas, para adequá-las aos recentes avanços na tecnologia de produção. O INMETRO também aguarda que o Ministério da Saúde define regras mais rígidas para o controle das camisinhas aqui vendidas. Contato: Fátima Leoni – (021) 502-1009
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