Profissão é drama para adolescentes
Fonte: Conversa afiada
Diante deste quadro, não é de espantar que apenas 5% dos vestibulandos tenham total certeza a respeito da opção realizada – 129 diferentes cursos são oferecidos hoje pelas 851 faculdades brasileiras – ou que quase metade dos 500 mil estudantes que todos os anos chegam à universidade acabe abandonando seu curso. É importante notar que outras variáveis contribuiem para tal distorção, como o fato do Brasil exigir cedo demais – entre os 17 e 18 anos – uma definição profissional por parte dos jovens. Nos EUA, por exemplo, geralmente só após completar 20 anos é que o estudante necessita estar com seus rumos profissionais estabelecidos. O adolescente brasileiro que sonha com a faculdade enfrenta ainda um outro problema: nossos colégios e cursinhos seguem obsecados com o mostro do vestibular, mas deixam de oferecer aos alunos uma percepção acurada do que consiste a prática das profissóes a que terão de se candidatar. Nem cuidam de consolidar a imagem de um trabalhador ativo, que desenvolva a flexibilidade e a multifuncionalidade e esteja aberto a um processo de contínuo aprendizado. Somemos a isto tudo o fato do "emprego seguro para a vida inteira" idealizado por gerações passadas estar se esfarelando e fica fácil entender porque instrumentos como a orientação vocacional, que até alguns anos atrás contavam com prestígio limitado, começam a ser vistos como recursos eficazes na procura por uma maior sintonia entre o potencial do adolescente e a carreira que escolher trilhar. PlRlOlJlElTlOlS Serviço de Orientação Vocacional do Instituto de Psicologia da USP (São Paulo) prioriza o trabalho de grupo, mas quando há necessidade realiza atendimento individualizado. O processo toma em média 12 encontros de uma hora, uma vez por semana. Estudantes de 14 a 18 anos compõem boa parte da clientela, mas o público adulto já começa a descobrir o trabalho. A USP também oferece atendimento às escolas e instituições públicas. Contato: Yvette Piha Lehman – (011) 818-4174 Serviço de Psicologia da UFBa (Bahia) oferece orientação profissional a alunos de 2º grau e capacita estudantes de graduação e psicólogos recém-formados nesta área. O objetivo do trabalho é facilitar aos orientandos a identificação dos fatores que podem estar influenciando, interferindo ou mesmo impedindo o processo de escolha profissional. As atividades utilizam vários recursos psicológicos, entre testes, questionários, inventários e dinâmicas de grupo. Contato: Jorge Luiz Sales Ribeiro – (071) 235-4589. A Colméia (São Paulo) é uma entidade privada, que utiliza vários recursos, além da tradicional aplicação de testes. São cinco sessões com dinâmica de grupo, exercícios de auto-conhecimento, jogos, debates sobre temas relativos à escolha e levantamento de interesses das principais áreas e profissões correlatas, além de pesquisas bibliográficas. Contato: Nina Christoffersen Knaus – (011) 852-2258. O Serviço de Orientação Profissional, projeto de extensão do Instituto de Psicologia da UFRGS (Rio Grande do Sul), atende principalmente alunos da 2ª e 3ª séries do 2º grau, além de universitários vocacionalmente desadaptados e adultos em processo de segunda escolha profissional. O trabalho desenvolve-se em grupos de até dez pessoas, que encontram-se por seis ou sete semanas. Contato: Maria Célia Lassance – (051) 316-3030. Outras fontes de referência: Instituto Internacional de Avaliação Costa Ribeiro – João Batista Araújo e Oliveira – (031) 282-0906. Orientação Vocacional e Redação (Nace) – Silvio Bock – (011) 829-2412.
Orientação Profissional: uma nova orientação Um dos muitos aspectos da questão é o fato da imprevisibilidade dos mercados de trabalho exigir pessoas mais profissionalmente flexíveis. E o que significa um trabalhador flexível? Uma pessoa que tem condições de se adaptar a novas situações, ocupações ou profissões. O que tem ocorrido com as ocupações e profissões nos últimos anos? Exatamente o contrário do que muitas pessoas ainda imaginam. Elas acreditam que vivem num mundo estático, previsível, onde o grande sonho da vida é fazer um curso técnico ou uma faculdade de quatro ou cinco anos e "trabalhar na minha área". Mas o que vem acontecendo com o mundo real? Primeiro, as habilitações técnicas, com raras exceções, estão diminuindo em quantidade. As mais importantes estão se tornando especializações de nível pós-secundário. Segundo, as profissões de prestígio estão alongando sua duração – exigindo mestrado ou doutorado, como no caso de profissões como a Economia, ou longos períodos de especialização, como a Medicina. Terceiro, a maioria das pessoas que se formam em cursos técnicos secundários ou superiores não trabalha na ocupação (e dão graças a Deus quando conseguem alguma ocupação). Elas se dão tão melhor no mercado quanto mais flexíveis forem em sua formação para adaptar-se ao que aparece. Xingar o mercado, blasfemar contra a globalização ou contra as multinacionais ajuda pouco. Face a esses novos desafios da flexibilidade do mercado de trabalho, os testes e outros instrumentos capazes de avaliar quais são as habilidades básicas comuns à diversas ocupações tornam-se imprescindíveis. Ou seja, a pergunta é inversa àquela tradicionalmente colocada pelos orientadores vocacionais. Esses procuram o que é específico a uma ocupação e a um indivíduo. Esta pergunta continua sendo importante, mas cada vez menos últil para ajudar as pessoas a se preparar para o mundo do trabalho. Já um teste de habilidades básicas permitirá aos que pretendem ingressar na força de trabalho e aos trabalhadores em geral avaliar qual o seu grau de preparo e de flexibilidade para responder aos desafios de uma ocupação específica ou de outras ocupações para as quais exista mercado. Uma vez consciente das habilidades que tem e das habilidades que o mercado (ou uma ocupação definida) requer, o indivíduo pode melhor se re-orientar, pelo treinamento ou experiência, para essa nova ocupação. João Batista Araújo e Oliveira
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