Linda de morrer!
A Maldição do Espelho
Padrões ideais impostos pela indústria da beleza dominam a mídia. Cresce o número de garotas e garotos que prejudicam seriamente a saúde na busca do corpo perfeito.
Implantes de silicone, lipoaspiração, anabolizantes, dietas milagrosas, anorexia, bulimia e mais a ditadura da malhação. Os adolescentes do ano 2000 sofrem na carne um novo tipo de escravidão: aquele dos parâmetros de beleza absoluta, que lhe são cobrados como condição fundamental para terem acesso a uma vida feliz e realizada.
Para as meninas, o drama é maior. Se desapareceram o asfixiante espartilho e as pesadas anáguas do início do século, a moldagem segundo um padrão ideal se desloca agora para o próprio corpo – a ser trabalhado, construído, esculpido até atingir o nível exibido pelas modelos da hora. A tarefa, porém, é cada vez mais árdua: se há 20 anos uma top model pesava 8% menos do que a média das mulheres da época, hoje a diferença já é de 23%.
Nos últimos anos, também os garotos vêm sendo submetidos às exigências mercadológicas de um "corpo sarado" e aos mesmos sofrimentos de suas irmãs, amigas ou namoradas.
À Mídia Jovem cabe um papel fundamental: alertar os adolescentes para o fato de que pautar a vida apenas pelo espelho leva à frustração e auto-rejeição. É importante descobrir a própria maneira de ser belo – e aprender a agregar ao interesse por um corpo saudável outros valores, estéticos e éticos.
Cirurgias estéticas
* O Brasil está em segundo lugar entre todos os países do mundo, no que se refere ao volume de cirurgias plásticas estéticas realizadas em 1999, só perdendo para os Estados Unidos.
* Em 1994, 5 mil cirurgias plásticas foram realizadas em jovens com idade entre 15 e 25 anos, no Brasil.
* Em 1999, 30 mil intervenções foram realizadas nessa faixa etária – um crescimento de 600%.
* Os jovens brasileiros de 15 a 25 anos que realizaram cirurgias estéticas em 1999 tinham a seguinte preferência: Elas: mama, nariz e lipoaspiração. Eles: nariz, orelhas de abano e ginecomastia.
Bulimia
* No auge da crise compulsiva, uma pessoa com bulimia chega a comer de 10 a 15 mil calorias em curtíssimo tempo. Em seguida, ela provoca o próprio vômito, ingere laxativos ou faz enemas.
* A bulimia é bem mais freqüente que a anorexia. Muitas vezes a menina manifesta a bulimia, para depois desenvolver a anorexia.
* A bulimia é bem mais freqüente que a anorexia. Muitas vezes a menina manifesta a bulimia, para depois desenvolver a anorexia.
* A bulimia é mais freqüente em jovens de 16 a 20 anos.
* 90% das vítimas são mulheres.
Anorexia
* No auge da crise, a pessoa com anoxeria perde todo o prazer em comer, ignorando até a necessidade de nutrir-se para sobreviver.
* Quem sofre de anorexia distorce a percepção de seu próprio corpo: ao olhar no espelho, sempre se vê muito mais gordo do que é.
* A anorexia atinge principalmente garotas entre 11 e 18 anos.
* A maioria dos anoréxicos pertence às classes média e alta.
* 90% das vítimas são mulheres.
* Nos Estados Unidos, 1 em cada 100 meninas são anoréxicas. No Brasil, o índice é de 1 em cada 250.
* Entre os pacientes que buscam o tratamento, 50% se recuperam completamente, 30% têm cura parcial e o restante não responde ao tratamento: a doença chega a matar 20% das suas vítimas.
Malhação e Anabolizantes
* O corpo do adolescente é muito mais vulnerável a exageros no levantamento de peso, que podem gerar seqüelas irrecuperáveis.
* Em hospitais e prontos socorros de todo o País vêm crescendo o número de atendimentos gerados pela prática excessiva ou mal orientada de esportes e musculação.
* Pesquisa realizada pela Escola de Educação Física da UFMG com aproximadamente 300 profissionais de educação física aponta:
71% deles acreditam que o aumento de utilização de anabolizantes é alarmante, sobretudo entre adolescentes.
75% sugerem que os usuários que têm objetivos estéticos devem ser discriminados nos meios esportivos.
98% condenam a utilização dessas drogas, considerada uma forma desleal de competição.
* A potência sexual sofre queda de 70% com o uso continuado de esteróides anabolizantes.
Na ponta da língua
Eles estão prontos para falar do assunto
A tirania da perfeição física
Com a supremacia da imagem na vida do homem moderno, os anos 90 continuam a instaurar a tirania da perfeição física. Hoje, todos querem ser sadios, magros, jovens. Grassa uma verdadeira lipofobia. Todos parecem querer participar da sinfonia do corpo magnífico, quase atualizando as intolerantes teses estéticas dos nazistas.
Anônimos, os feios simplesmente recusam seus corpos. É que vivemos a supremacia da aparência. A fotografia, o filme, a televisão e o espelho das academias dão ao homem moderno o conhecimento objetivo de sua própria imagem e a forma subjetiva que ele deve ter aos olhos de seus semelhantes. Numa sociedade de consumo, a estética surge como motor do bom desenvolvimento da existência.
A feiúra é vivida como um drama. Daí a multiplicação de fábricas de ‘beleza’, cujo pior fruto é a clínica de cirurgia plástica milagrosa. Os pagamentos a perder de vista parecem garantir, graças a próteses, um novo corpo: formal, mecânico, teatral." (Trechos do artigo intitulado Abaixo as Barbies!. Acesse a íntegra na página do Conversa Afiada nº 13, no site da ANDI: www.andi.org.br).
Mary Del Priore – historiadora e professora da PUC-RJ
Interesse comercial prevalece
"A cirurgia estética deveria ser discutida de uma forma mais profunda, pois o adolescente pensa que vai se transformar em uma outra pessoa. Mas se o processo cirúrgico não for apoiado por um trabalho de auto-valorização, não apresentará resultados eficientes no que diz respeito à auto-estima do jovem. Muitos se arrependem depois das cirurgias, pois ainda não têm uma visão madura sobre o próprio corpo.
Acredito que os adolescentes são cada vez mais vítimas de uma situação comercial – eles não têm informação suficiente. Uma cirurgia precoce traz riscos que não vêm sendo devidamente esclarecidos para a população nem para o jovem."
Albertina Duarte – ginecologista e obstreta
Cirurgiões são contra regulamentação
Tramita no Congresso Nacional projeto de lei que regulamenta o uso do silicone em cirurgias plásticas estéticas. Segundo seu relator, senador Sebastião Rocha (PDT-AP), é fundamental que o paciente seja informado dos riscos que corre ao submeter-se ao implante de uma prótese de silicone. Ele acredita que a clínica onde se dará a intervenção obrigatoriamente deverá apresentar, para que o paciente leia e assine, um "Termo de Consentimento Esclarecido", a ser elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Os cirurgiões plásticos ouvidos pelo senador são contrários à medida, pois acham que poderia reduzir o número de candidatas à cirurgia. A mesma dificuldade é encontrada por quem defende a idéia de que os cirurgiões deveriam definir um código de conduta no que se refere às intervenções estéticas em garotas com menos de 18 anos: a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) é contra a iniciativa.
Sebastião Rocha – médico e senador
Luiz Carlos Garcia – presidente da SBCP
Sugestões de pauta
1 Quando as fontes forem clínicas de cirurgia plástica ou academias de ginástica, é importante estar atento aos riscos do trabalho de profissionais mal orientados ou inescrupulosos, que estimulam os adolescentes a práticas pouco saudáveis e exageradas, invasivas às características específicas de um corpo ainda em desenvolvimento.O que os cirurgiões plásticos de sua cidade têm a dizer sobre intervenções como implante de silicone e lipoaspiração solicitadas por adolescentes? E os professores de educação física, como vêem o culto ao corpo perfeito? Qual a opinião dos jovens: será que os garotos estão mesmo cobrando esta perfeição toda das meninas? E elas, exigem deles o tal corpo ideal?
2 Os perfis das top models definem um padrão homogeneizador. O Brasil tem características populacionais plurais e precisa estimular o adolescente a valorizar seu biotipo específico. Aprender a reconhecer sua própria forma de beleza é um caminho mais natural e recompensador do que forçar o corpo a encaixar-se nos modelos ideais. É uma boa idéia reunir garotos e garotas para discutir essa questão. Será que uma pessoa pode se sentir bonita ou atraente sem necessariamente ajustar-se aos parâmetros da indústria da beleza?
3 Cabe à família acompanhar o processo de desenvolvimento do adolescente e de sua auto-estima. Os pais devem estar atentos aos possíveis exageros dos filhos em relação ao cultivo de um padrão de beleza idealizado, num período da vida em que é comum se passar por profundas inseguranças e transformações.Uma conversa com pais e adolescentes pode ser muito rica. Será que muitas vezes os próprios pais não contribuem para esta pressão por um corpo perfeito?
4 O glamour da vida de top model é privilégio de uma seleta minoria. Por outro lado, é enorme o contingente de garotas que se frustram nos concursos ou nas próprias agências de modelo.Que tal mostrar também o que acontece por trás dos holofotes da indústria da moda e da beleza? Busque em sua cidade jovens para depoimentos sobre as dificuldades de emplacar a carreira, o comportamento pouco ético de várias agências, a extrema competição entre as garotas e as exigências quanto ao corpo perfeito[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text] [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]