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O último domingo, 17, tinha tudo para ser como tantos outros. Entretanto, pode-se dizer que foi bastante diferente e marcante para o jornalismo sergipano, com o falecimento do jornalista, cronista e boêmio Cleomar Brandi. Considerado por muitos um exemplo de vida, o guerreiro lutava incansavelmente contra um câncer há vários anos e estava internado, desde junho, em um hospital localizado na capital sergipana.

Nascido no dia 18 de janeiro de 1946, em Ipiaú (BA), Cleomar iniciou sua carreira profissional no Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), quando foi aprovado em primeiro lugar, em um concurso público. No início da década de 80, mudou-se para Aracaju (SE) para fazer parte da equipe que iria pôr no ar a TV Aperipê. Desde então, desenvolveu o seu trabalho em diversos meios de comunicação em Sergipe, como diretor de jornalismo, na Aperipê TV, e pauteiro, no diário Jornal da Cidade, nos quais atuava até recentemente.

Além disso, Cleomar Brandi também é o autor do ‘Os Segredos da Loba’, lançado em 2009. O livro é uma coletânea de diversas crônicas, escritas e selecionadas, dentre as várias, pelo próprio cronista.

Nesta segunda-feira, 18, a Aperipê AM (630), FM (104,9) e TV  homenageará este grande homem e profissional, durante a sua programação. Assim como o velório, que está acontecendo desde o domingo, o sepultamento também ocorrerá no cemitério Colina da Saudade, hoje, às 16h.

Abaixo, a crônica distribuída aos presentes no velório de Brandi.

A última saideira – por Cleomar Brandi

“Um dia, uma noite, algum boêmio sempre pede a saideira e os garçons nunca gostam dessa história. Mas, o certo, é que sempre chega a hora da última saideira. Dessa vez, chegou minha hora, meu último gole.

Eu, pessoalmente, não diria que estou indo contrariado. A hora e a vez de Matagra. Afinal de contas, soube beber com sede de aprendiz o melhor que havia na taça que a vida me ofertou. Uma taça lavrada, rescendendo a conhaque.

Nadei nas águas mornas de Arembepe, conheci Raulzito quando ele ainda se juntava aos seus panteras, com Thildo Gama e outros, vi Caetano, Moraes Moreira, Pepeu no encontro de trios, enquanto o poeta apontava com a mão a Baía de Todos os Santos. Arpoei caramuru, tirei polvo da toca, garanti as moquecas da minha adolescência, fui recordista de natação, ungido por Oxalá.

Fui bom de porrada, fiz meu nome nas turmas de rua do Lago dos Aflitos, joguei futebol e, nos babas, ganhei o apelido de “Leonam” onde sou conhecido assim até hoje. Fui batizado nos puteiros da Ladeira da Montanha, conheci Mestre Pastinha e Mestre Bimba, vi meu “Bahêêêa” ganhar para o escrete do Santos e Waldemar Santana encher Hélio Gracie de porrada.

Conheci os mistérios dos becos e ladeiras da velha Salvador, fui amigo de Cid Teixeira, Capinam, Guido Guerra e Luis Orlando, encarei dois anos de internamento no Hospital das Clínicas, tive febres diárias, colecionei escaras coloridas, vibrantes e sangrentas, decepcionei laudos médicos, busquei o tempo que eu queria da minha vida.

Um dia, uma brisa morna me carregou para o colo da bela Aracaju, onde eu soube ser feliz, no tempo que me restava. Aqui, bebi os melhores conhaques da minha vida, amanheci nas libações madrugadoras com o amigo-irmão José Eduardo Sousa, soube ouvir o violão de Pantera, a melodia de Paulo Lobo, o blues de Soyan, as conversas de Mariano e Bel nas andanças do Imbuaça. Aqui, plantei amigos, colhi irmãos, como o grande parceiro Gilson Sousa. Aqui, ouvi a melodia do Cataluzes, comi o melhor pirão de caranguejo do Pastelão, me fartei dos mistérios culinários da cozinha de Camilo.

Nessa terra, amei mulheres que reverencio até hoje. Fiz poemas para algumas, embriaguei-me com outras. Como esquecer do sorriso de Arlinda, que ganhou o mundo e acabou na Sorbonne? Como esquecer do sorriso sacana de Ana Paula? E os finais de tarde no Mosqueiro? E o chiado da tainha na frigideira do Bar de Nem? E a amizade terna da turma do JORNAL DA CIDADE e da Aperipê TV.

Como esquecer da lealdade de meus irmãos a vida inteira? E de Christina Brandi, cunhada que se tornou irmã? E da cumplicidade do irmão Chico Neto, que trilhou a vida inteira os caminhos do bom jornalismo, ético e honesto?

Um dia, o velho barril de carvalho pinga sua última gota de conhaque. E o poeta se despede de tudo, sem tristezas nem vexames. Apenas sabendo que cumpriu seu papel com dignidade, com honestidade e com um brilho de crianças nos olhos.

Quem sabe, eu encontre o amarelo dos girassóis nesse novo caminho?

PS: Os amigos estão convidados para a última saideira no Bar do Camilo, assim que terminar o sepultamento. Já está pago.”

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