Déda e ministra lançam cartilha e catálogo das Religiões de Matriz Africana
Um passo importante foi dado nesta sexta-feira, 20, na cultura, educação e democracia sergipana. Foi lançado o catálogo: Religiões de Matriz Africana em Sergipe e da Cartilha Pedagógica das Religiosidades de Matriz Africana e da Promoção da Igualdade Racial. O evento aconteceu no auditório da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe (Aease) e contou com a participação do governador de Sergipe Marcelo Déda, da ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, além do secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Luiz Eduardo Oliva, yaloxirás, babalorixás, filhos e mães de santo, entre outros.
O evento foi aberto por Patrão Magno, do Centro Santo Antônio, localizado em Nossa Senhora do Socorro, que realizou uma saudação ao orixá Oxalá. Depois, a ekede, Maria, do terreiro Filhos de Obá, entregou ao governador Marcelo Déda e a ministra Luiza Helena de Bairros, um kit contendo a cartilha e o catálogo.
O catálogo é um pré-mapeamento dos terreiros de candomblé e de umbanda do Estado, e ajudará a identificar onde estão esses terreiros, para que a história e a identidade das religiões de Matriz Africana fiquem na memória do povo sergipano.
Já a cartilha tem uma função pedagógica e ajuda a reforça a Lei Federal 10.639 de 2003, que obriga as escolas públicas a implementar a disciplina ‘História da África e da Cultura Afro-Brasileira’. Assim, a cartilha servirá de instrumento pedagógico nas escolas, para que a base educacional das crianças, possa ser trabalhada no tocante a igualdade racial e o respeito às diversidades. O material será distribuído nas escolas públicas e privadas, ainda este ano.
Em seu discurso, o governador Marcelo Déda falou sobre o preconceito existente em todo Brasil, que algumas vezes não se explicitam, mas que ferem profundamente àqueles que são vítimas deles. “Há preconceitos raciais e ao direito das pessoas de exercerem a sua liberdade de religião, especialmente as religiões afrodescendentes. Portanto, discutir a discriminação racial, os direitos fundamentais das pessoas e grupos humanos, construir normas, atitudes e legislações que possam romper os últimos grilhões é uma obrigação do Estado e é um dever da sociedade. Então, Sergipe colabora quando, em parceria com o Governo Federal, lança uma cartilha e catálogo que enaltece as religiões de matizes africanas”, ressaltou.
A ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, observou que hoje existem as condições de promover, através de ações governamentais, a inclusão das pessoas negras. “O Brasil vive hoje sobre a égide do Estatuto da Igualdade Racial, que prevê como obrigação para o setor público a adoção de várias medidas afirmativas em todas as áreas da vida social. Temos instrumentos, o que falta é a escolha política dos governantes”.
Sobre a cartilha, ela enfatizou que o material contribui com uma nova mentalidade da sociedade. “Esse é um aspecto do nosso trabalho, que é a formação de novas mentalidades, a partir de conhecimento que são gerados levando em conta e valorizando a experiência negra no Brasil”.
Para o secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Luiz Eduardo Oliva, o lançamento da cartilha e do catálogo representa um momento importante para a política estadual de promoção da igualdade racial do Estado e mais particularmente para a secretaria. “São políticas afirmativas que levam a uma maior conscientização da necessidade de permanente combate ao racismo, à discriminação, avançando sempre na promoção da igualdade racial”, pontuou.
A yalorixá Ligia Borges, do terreiro Ilê Axé Obé Farã, localizado no loteamento São Sebastião, no bairro Industrial, em Aracaju, falou da importância do lançamento da cartilha e do catálogo. “Esse é um momento ímpar, histórico para Sergipe. Quando desenvolvemos esse material, pensamos nas escolas e em sua aplicabilidade entre os estudantes, a fim de tirar o preconceito desde cedo, e assim, as pessoas enxergar a contribuição da população africana no Brasil”.
Sônia Oliveira, do Movimento Social Negro, presenteou a ministra com a união de Oxaguiã e uma impulsa de Oxum. Em seguida, entregou ao governador e a ministra, um relatório sobre a política de promoção da igualdade racial em Sergipe.
Ela citou que o racismo ainda estrutura a sociedade brasileira para a marginalidade, desigualdade e pobreza. Ela apresentou dados do último censo, realizado pelo IBGE, que mostrou uma população brasileira de 190 milhões de pessoas, desse total, 97 milhões se declararam negros e pardos. Sergipe é o quinto Estado em maior número de contingente de população negra.
“As políticas de promoção para a igualdade racial e as ações afirmativas não são mais ações voltadas para poucas pessoas. Entendemos que o processo de racismo é histórico e sabemos que um estado dentro das questões capitalistas, esse racismo tende a permanecer”.
Um ponto positivo destacado por Sônia foi a criação por parte do Governo do Estado, da Coordenadoria de Políticas e Promoção da Igualdade Racial (Coppir). “Sergipe é um dos poucos estados a instituir essa política, agradecemos ao governador Marcelo Déda por isso”.
Justiça
De acordo com o governador, a presença da ministra é fundamental, pois Sergipe tem uma população majoritariamente afrodescendente, e um local onde a contribuição da cultura africana trazida pelos escravos e depois consolidada pelos afrodescendentes, desenhou o perfil do Estado. “Precisamos assumir a responsabilidade de encarar nossos problemas e de buscar superá-los, fazendo de Sergipe uma sociedade como queremos que seja a brasileira, justa, multicultural, que respeite as diferenças e afirme o valor de cada cultura, que contribuiu para que pudéssemos ser o que somos hoje”, declarou Déda.
Para a ministra, a expectativa é fazer que o momento de hoje seja de reafirmação de compromisso e seja mais um passo para que as autoridades e governos se comprometam com um trabalho sistemático de combate às desigualdades raciais e ao racismo. “Sergipe é importante do ponto de vista da herança africana que existe no Brasil, temos uma população de maioria negra, uma presença negra na cultura sergipana que é de uma importância grande. Portanto, nada melhor do que você começar esses trabalhos a partir desses lugares, onde a referência negra é inequívoca”, observou Luiza Helena.
Ligia Borges lembrou que há três anos foi criado o Fórum Sergipano das Religiões de Matriz Africana, com o intuito de discutir e colocar na pauta do dia a religião de matriz africana. “Descobrimos que é importante a organização de um povo, só assim a gente consegue a cidadania plena e a garantia dos direitos”.
Para Ligia, os preconceitos são vencidos a cada dia, porém, eles ainda são muitos, pois os filhos de santo são vistos como filhos do diabo. “Queremos desfazer essa ideia, que é muito errônea. No período da escravidão, a religião africana foi muito distorcida. Esse é o momento de dizer à sociedade que a religião de matriz africana existe, ela não quer ser tolerada, mas, sim, respeitada dentro da sua crença”.
Vitórias
O governador Marcelo Déda relembrou de quando era prefeito e que no primeiro ano de gestão realizou uma celebração no Dia da Mulher, homenageando todas as sacerdotisas dos cultos afro-brasileiros. “São mulheres símbolos da resistência cultural”.
Depois, no centenário da casa de Mãe Nanã, colocou uma placa de bronze oficial da Prefeitura de Aracaju celebrando o centenário do local e homenageando todos, que ao longo de um século sob a liderança de mãe Nanã, mantiveram viva a cultura e a religiosidade. Assinou também a lei e as normas explicitando que casas de culto não podem ser objeto de cobrança de impostos.
“Precisamos aprender com as diferenças, não precisamos pasteurizar tudo, o Brasil é belo porque o Brasil é diferente, nós formamos uma unidade que soma diversas formas de ser. Sergipe se sente honrado de dá um ponta pé inicial em um programa que vai ajudar o Brasil a ser mais igual e mais justo, a banir de uma vez por todas o preconceito contra quem quer que seja”.
O governador encerrou seu discurso avisando que os secretários que têm foco e atribuição na área da igualdade devem sentar e fazer um raio X da política e encontrar novos caminhos. Depois devem ampliar a reunião entre secretários e movimentos. “Vamos avançar, quem sabe a gente consegue no próximo ano uma unidade para discutir mais profundamente a igualdade racial”, disse Marcelo Déda. Ele anunciou ainda que colocará uma escultura em tamanho natural de Zumbi dos Palmares, na orla de Atalaia, junto a outras imagens de personalidades brasileiras.
Exposição
Na área externa da Aease, o público presente pôde apreciar a exposição de quadros ‘Orixás’, de Lígia Borges e assistir a apresentação de dança de filhos de santo, que com seus atabaques entoavam cânticos nagô. Foi oferecido também um coquetel de comidas típicas africanas.
Presenças
Participaram também do lançamento da cartilha e do catálogo, o vice-governador Jackson Barreto, os secretários da Casa Civil, Jorge Alberto; da Inclusão Social, Eliane Aquino; da Cultura, Eloisa Galdino; de Políticas para as Mulheres, Maria Teles; do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Genival Nunes; o vice-prefeito, Silvio Santos; o presidente do Banese, Saumíneo Nascimento; o promotor de justiça, Luis Fausto Valois; a deputada estadual, Conceição Vieira; a vereadora Rosângela Santana, entre outros.
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