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Os moradores da Coroa do Meio contam agora com mais um instrumento de capacitação profissional rumo ao mercado de trabalho. É que o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, acaba de reinaugurar na tarde de hoje, terça-feira, a Unidade de Qualificação e Produção José Joaquim dos Santos, que foi recuperada, ampliada e dotada de um laboratório de informática. Os investimentos totalizaram R$ 76.868,42 e o gerenciamento ficará a cargo da Fundação Municipal do Trabalho (Fundat), que pretende, a partir de fevereiro, melhorar os núcleos profissionalizantes do Santos Dumont e do Porto Dantas.

É a primeira vez que a Unidade da Coroa do Meio passa por reformas desde a sua implantação, em 2001. O espaço recebeu laboratório de informática, salas de coordenação e de aulas para cursos teóricos, estrutura para oficinas de culinária, recepção e sanitários adaptados para Portadores de Necessidades Especiais (PNEs), entre outras dependências. As obras foram feitas com recursos próprios da Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA) e os equipamentos (15 computadores) doados pela Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe (Fafen), unidade da Petrobrás no município de Laranjeiras.

Durante a reinauguração, Edvaldo Nogueira lembrou que desde quando iniciou a parceria com o então prefeito e atual governador Marcelo Déda, a partir de 2001, a Coroa do Meio tem sido um dos bairros que mais recebeu investimentos públicos. Alguns dos exemplos mencionados foram a construção de 600 moradias dignas em substituição às palafitas da região; o calçamento de dezenas de ruas e as obras do Museu do Mangue, que está sendo construído com o objetivo de frear o processo de destruição dos manguezais e deve ficar pronto no ano que vem.

"Nunca nenhuma administração trabalhou tanto pela Coroa do Meio. Foi preciso coragem, determinação e compromisso com os mais humildes para acabar com aquelas palafitas, que eram como uma chaga numa das áreas mais belas da cidade de Aracaju. Ao contrário de outros governos, não jogamos essas famílias em áreas pobres e distantes. As pessoas receberam suas casas no local onde viviam e criavam seus filhos", ressaltou.

Cursos

Segundo o presidente da Fundat, Carlos Magno Costa Garcia, a comunidade será beneficiada com cursos de culinária, espanhol, inglês, informática, telemarketing, entre outros que serão formulados a partir das necessidades demandadas. "Fico feliz em cumprir a determinação do prefeito de aumentar nossa atuação na área de qualificação profissional para aqueles que mais precisam. Estamos terminando o ano com seis mil pessoas qualificadas, número que representa quase o dobro da média dos anos anteriores (três mil atendimentos)", afirmou.

Representante de uma das empresas que mais investe em responsabilidade social no país, o gerente da Fafen, Rosildo Silva, ressaltou que a parceria com a PMA atende a diretriz da Petrobrás de apoiar as populações do entorno das unidades operacionais. "Precisamos fazer com que a sociedade se desenvolva, sem substituir o poder público, mas entrando como parceiros sempre que possível", ressaltou. Pela segunda vez, a Fábrica de Fertilizantes é parceira da prefeitura. Em 2005, doou 25 computadores para projetos de inclusão digital.

Oportunidade

A possibilidade de receber o treinamento e a capacitação necessária para tentar uma oportunidade no mercado de trabalho está levando esperança para dezenas de jovens antes sem perspectiva. É o caso da desempregada Ana Paula Cerqueira Barbosa, 24 anos, que vê no curso de telemarketing a perspectiva de um futuro melhor. "No mundo de hoje, com tanta falta de emprego, é essencial dar às pessoas a oportunidade de sair de frente da TV e buscar uma qualificação. Estou conseguindo melhorar o currículo e ampliar meus conhecimentos", comemora.

O estudante Pedro Henrique da Silva, 16 anos, acha que os cursos proporcionados pela Unidade de Produção servirão de caminho intermediário para que possa realizar o sonho de se formar em arquitetura. "As aulas são muito interessantes porque temos aprendido como o telemarketing acontece não só na teoria, mas também na prática. O professor tem feito simulações que ajudam muito na hora de enfrentar o mercado de trabalho", avalia.

Homenagem

Durante a reinauguração, Edvaldo Nogueira homenageou o líder popular José Joaquim dos Santos, conhecido como Zé do Sal, símbolo maior da luta pela moradia naquela comunidade. "Acredito que as pessoas simples, que têm um histórico de luta por condições dignas de vida, devem ser reconhecidas pelo poder público. Muitas das famílias que não foram expulsas da Coroa do Meio e estão hoje aqui devem isso a Zé do Sal", afirmou.

Ainda no início do curso de medicina, em 1982, Edvaldo Nogueira e o movimento estudantil se uniram à causa da comunidade pobre do bairro, que vivia sob ameaça de expulsão constante da polícia. "Ali foi o meu batismo. Naquele momento, tive contato com o sofrimento dos oprimidos e mais humildes. Então resolvei entrar na política e dar a minha contribuição pela melhoria das condições de vida daquelas pessoas", relembrou.

Esse momento história, que marca o início do processo de construção dos movimentos populares em Aracaju, também foi acompanhado pelo secretário de Governo, Bosco Rolemberg, preso político na época recém-libertado da Ilha de Itamaracá (PE) pós Ditadura Militar. "Fomos a resistência à pretensão das elites de expulsar os moradores. Foi uma experiência concreta, a partir de uma realidade objetiva, de enfrentamento das adversidades, da falta de moradia digna. Aquele momento representou a coragem, a lucidez e a liderança de Zé do Sal e das demais famílias que empunharam aquela luta", avalia.

Em meio à cena de horror da comunidade, se colocando na frente dos tratores que vinham derrubar as casas, o movimento estudantil em ascensão, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a opinião pública reagiram. Finalmente, em 1982, a guerra chegou ao fim e os moradores conquistam o direto de permanecer onde estavam. Para as gerações que vieram, ficou o orgulho e a lição de que a união faz a força. "Meu pai sempre foi uma pessoa simples e batalhadora, que a vida toda ajudou os necessitados", afirma a filha Noêmia
Dantas Santos, 42 anos.

O sentimento de reconhecimento é compartilhado pela esposa Lindaura Dantas, 78 anos, mãe de oito filhos. "Sinto muito orgulho por tudo que ele fez e pela família maravilhosa que construímos. Nunca esperei que o prefeito fosse lembrar dele e fizesse essa linda homenagem", comemora. A sobrinha, Fátima Lúcia dos Santos Lima, 53, que acompanhou de perto a luta do tio pelo direito pela moraria, fez um dos discursos mais emocionados durante o evento. "Nenhuma palavra será suficiente para definir o tamanho da nossa saudade",
enfatizou.

Maior aliada de Zé do Sal naqueles tempos difíceis, Josefa Vieira de Melo, 75, é a prova viva de que valeu a pena toda aquela mobilização para que filhos e netos pudessem ter dias melhores, com condições de moradia dignas e um futuro cheio de perspectivas.

"Chegamos como índios e nos transformamos numa grande família. Foi a nossa revolução", revela. "Zé do Sal foi e é um exemplo para muitos daqueles que hoje moram na Coroa do Meio. Ele viveu em função das famílias que se encontravam naquela localidade", comentou o presidente da Fundat, Carlos Magno.

Nascido em 23 de maio de 1930, na cidade de Igreja Nova, Estado de Alagoas José Joaquim dos Santos recebeu o apelido de Zé do Sal nos tempos em que trabalhava nas salinas. Nos anos 70 veio para Aracaju com a família habitar o bairro da Coroa do Meio. Em 76 chegou Josefa Vieira de Melo, de Nossa Senhora da Glória, que logo se integrou à luta com as cinco famílias que moravam no local e viviam basicamente da pesca.

Em 13 de abril de 1979, o grupo fundou a Associação em Defesa dos Moradores da Coroa do Meio e Zé do Sal foi o primeiro presidente. Depois de anos de resistência às tentativas de colocar os tratores e a política para expulsar às famílias pobres, o movimento pelo direito à moradia saiu vencedor. Em 82, a guerra chegou ao fim depois da adesão da opinião pública.

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