Workshop sobre energia nuclear reúne especialistas em Sergipe
Desmistificar o tema em torno da instalação de uma usina nuclear em Sergipe, através de um amplo debate com personalidades que dominam o assunto no país. Essa foi a proposta do 3° Workshop de Energia Nuclear no Nordeste, realizado no Hotel Radisson nesta sexta-feira, 21. Sob a coordenação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia e do Turismo (Sedetec) – em parceria com a Eletronuclear e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) – o evento, semelhante aos que também já foram realizados em Alagoas e Pernambuco, reuniu empresários, políticos, engenheiros, ambientalistas, Organizações Não Governamentais (ONGs), lideranças comunitárias, técnicos do setor e estudantes para a discussão do assunto.
O secretário Jorge Santana (Sedetec) representou o governador de Sergipe na abertura oficial do encontro. “Temos consciência da importância desse feito para Sergipe, mas o governador jamais tentaria trazer a central nuclear se os sergipanos não fossem a favor do empreendimento, então essa é a nossa missão, de promover o debate, a fim de eliminar preconceitos históricos, num amplo confronto de idéias, que por fim deverá ser favorável à instalação da usina, o que vai mudar a face da economia do Estado”, ressaltou.
Como um dos palestrantes do evento, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, falou sobre o tema “O Planejamento Energético e a Necessidade de Usinas Nucleares no Nordeste para o Sistema Interligado Nacional”. “O planejamento tem dois momentos, o primeiro de longo prazo trata de um estudo para definir as políticas a serem utilizadas para a expansão da rede e as necessidades dessas fontes. No momento estamos realizando essa análise na região Nordeste e somente vamos ter uma definição após cumpridas todas as etapas, a fim de verificarmos o tipo de tecnologia, de comercialização dessa energia e a integração com o sistema que funciona interligado”, observou Altino Ventura, ao destacar que estudos a longo prazo sinalizam para a necessidade no Brasil de no mínimo quatro mil megawatts de energia para os próximos anos, ou seja, a instalação de quatro unidades de mil megawatts cada.
Ampla discussão
Com o tema “Central Nuclear do Nordeste: A Seleção de Sítio e Impacto sobre o Desenvolvimento da Região Escolhida”, a palestra do engenheiro Drausio Atalla, chefe da usina Angra 2, trouxe boas experiências sobre o empreendimento implantado em Angra dos Reis, município do Rio de Janeiro. De acordo com o engenheiro, os benefícios de caráter econômico para as regiões que recebem usinas podem se propagar por quase um século. “Um investimento do porte de uma usina nuclear traz retornos imediatos para a população que a recebe, e estes benefícios continuam presentes em todas as fases do processo. Além dos empregos, a capacitação de mão de obra é outro ganho significativo que temos observado nas experiências já estabelecidas”, apontou.
Abordando outro tema de extrema relevância para o debate, o assessor de responsabilidade sócio-ambiental da Eletronuclear, Paulo Augusto Gonçalves, propôs uma discussão em torno de “Compensações sócio-ambientais. Apresentação do Caso da Central Nuclear Alte. Álvaro em Angra dos Reis”. Segundo Paulo Gonçalves, a Eletronuclear hoje destina R$ 500 milhões para a execução de programas na área sócio-ambiental. Ainda de acordo com o assessor, estes programas são baseados em políticas públicas priorizadas pelo Governo Federal, nas áreas de saúde, educação, saneamento, entre outras.
A exemplo do engenheiro Drausio Atalla, Paulo Gonçalves apresentou em sua palestra dados da experiência bem sucedida da central nuclear Angra 4. No entanto, destacou que na futura experiência da usina nuclear do Nordeste, a Eletronuclear pretende aprimorar o processo de implantação das políticas sócio-ambientais. “Em Angra, primeiro implantamos a central 4 e agora estamos colhendo dados sobre as necessidades da população que vive ao redor da usina. Para a nova central do nordeste pretendemos adotar uma ação desenvolvimentista, e apresentarmos projetos adaptados para a realidade local”, explicou.
Importância do debate
Para a doutora em Física Suzana Lalic, uma das moderadoras no evento, a informação correta é essencial para a aceitação da sociedade. “É preciso que as pessoas que têm um posicionamento contrário à instalação em Sergipe, como alguns políticos, sejam informadas e adquiram conhecimentos sobre a enorme possibilidade de se trabalhar com a central de forma segura”, disse ao destacar que já existe um acordo firmado entre a Eletronuclear e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) para a criação de um centro de divulgação sobre o tema, o que deve auxiliar na conscientização das pessoas.
De acordo com Ângela Souza, diretora de Tecnologia do SergipeTec, o debate é imprescindível para mostrar as vantagens do empreendimento e desfazer preconceitos, a fim de que as pessoas possam se posicionar sobre o assunto a partir das informações de pessoas qualificadas. “Os acidentes em usinas nucleares ocorridos ao longo da história, como o de Chernobyl, em 1986, por exemplo, criaram um impacto negativo, o que gerou um medo muito grande na sociedade que tem nesse momento a oportunidade de sanar suas dúvidas em relação ao tema”, enfatizou.
O coordenador do Núcleo de Informações Econômicas da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES) – uma das instituições que apoiou o evento – Rodrigo Rocha, concorda que o assunto é polêmico e defende a realização de um amplo debate. “A sociedade precisa entender que o investimento não traz riscos e é muito importante para o Estado por prever a geração de empregos e renda e que precisamos lutar para Sergipe sediar a central”, afirmou.
Orientação bibliográfica
Durante o evento os participantes também puderam prestigiar o lançamento de duas obras bibliográficas sobre o tema. O primeiro livro, do engenheiro Drausio Lima, trata de “Usinas Nucleoelétricas – Escolha do Local”. Já o segundo, do também engenheiro nuclear Leonam dos Santos Guimarães, que é chefe de gabinete da presidência da Eletronuclear, trata do tema “Segurança de Sítios Nucleares”. “O livro tem um enfoque técnico que permite estabelecer os critérios e aspectos de segurança do local onde deverá ser implantada a usina nuclear e complementa as informações repassadas na obra de Drausio”, resumiu.
[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text]- Workshop sobre energia nuclear reúne especialistas em Sergipe – Fotos: Alejandro Zambrana / Ascom/Sedetec