Trinta mil alunos do Sergipe Alfabetizado já estão em sala de aula
“Ao final do curso espero ter vontade de voltar à escola e transmitir essa garra aos meus filhos e netas. Quando ficamos muito tempo sem estudar, perdemos o estímulo para voltar depois. Quero continuar crescendo como mulher e cidadã, através do conhecimento”, declarou a dona de casa Edilma Brito Brandão, que estudou até a 8ª série e está há 23 anos longe dos bancos escolares. Edilma é uma das mais de 30 mil pessoas beneficiadas nesta etapa do Programa Sergipe Alfabetizado, que teve as aulas iniciadas na última segunda-feira, 19, com a meta de reduzir a taxa de analfabetismo no estado.
Edilma assiste às aulas todas as tardes em sua própria casa, no povoado Gameleira, no Mosqueiro, zona sul da capital. Sua filha mais velha, a estudante de pedagogia Jéssica Brito, é um dos 2.500 alfabetizadores contratados para o módulo 2011/2012 do programa. Em casa, mãe e filha recebem as mulheres da comunidade que, assim como Edilma, têm vontade de vencer na vida através do estudo.
“Estudei até a 4ª série, mas este mundo não é o mesmo de 50 anos atrás quando eu parei. Aprendi a ler e escrever algumas coisas, mas isso não é mais suficiente para os dias de hoje. Quero me dedicar ao Sergipe Alfabetizado e não depender de mais ninguém. Nunca é tarde para aprender quando se tem fé e força de vontade”, enfatizou a dona de casa Marlene da Luz, de 57 anos.
De acordo com o diretor do programa, José Genivaldo Martirez, pessoas que chegaram a frequentar a escola também são público-alvo do Sergipe Alfabetizado. “O objetivo vai além de alfabetizar aquelas pessoas que nunca pisaram em uma sala de aula. O programa serve também como um portal para que pessoas que deixaram de estudar por algum motivo possam descobrir o prazer da leitura e da escrita e irem em busca da continuidade dos estudos. Que o Sergipe Alfabetizado seja um ponta-pé inicial para uma carreira acadêmica”, disse o diretor.
Ainda segundo Martirez, o programa se destaca, dentre outros aspectos, por chegar mais perto do público-alvo. “O Sergipe Alfabetizado está em localidades às quais a própria escola não chega. As aulas acontecem nas casas de alfabetizadores, sedes de associações, igrejas, dentre outros locais. A ideia é chegar até onde o aluno estiver. E dessa forma o programa se faz presente em 69 municípios sergipanos”, ressaltou.
Para este ano também está confirmada a participação de trabalhadores de canaviais e laranjais por meio da parceria com a Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e Desenvolvimento Social (Seides). “Através dessa parceria, os 1.484 trabalhadores da cana-de-açúcar e da laranja, identificados na condição de não alfabetizados, participarão das classes do Programa Sergipe Alfabetizado, com material pedagógico específico”, explicou o diretor.
Alfabetizadores
Personagens indispensáveis no processo, os alfabetizadores passaram por quatro capacitações para se adequar à metodologia do programa. Eles, que somam 2.500 em todo o Estado, são gerenciados por 300 coordenadores de turmas e passarão por acompanhamentos mensais a fim de garantir uma melhor qualidade na alfabetização de jovens, adultos e idosos.
“Nas capacitações aprendi como abordar esse aluno, que muitas vezes não gosta de se expor, de dizer que não sabe sobre determinado assunto. Aprendi as didáticas do programa e a melhor maneira de ensinar a esse aluno noções básicas de língua portuguesa e matemática, sempre aliando o conteúdo a exemplos do dia a dia”, explicou Jéssica Brito.
Para a alfabetizadora, o principal estímulo para participar do programa foi observar a realidade de sua comunidade. “Às vezes, as vizinhas chegavam com correspondências para eu ler, pois elas não sabiam. Isso me deixava triste e preocupada. Então, uma amiga que já era alfabetizadora me apresentou ao programa. Fiquei encantada e tive a certeza de que poderia trazer benefícios à minha comunidade. Minha motivação é poder ajudar a essas pessoas que não tiveram as oportunidades que eu tive. Essa experiência também vai enriquecer meu currículo e me preparar para a carreira de professora”, projetou a estudante de pedagogia.
Avaliações e continuidade
Genivaldo Martirez explica que não existiu seleção para a pessoa fazer parte do programa, apenas duas provas são feitas durante o processo para avaliar o desenvolvimento do alfabetizando. “O programa nunca teve um caráter classificatório. Os alunos passam por uma avaliação no início e outra no final do curso. O intuito é diagnosticar quais as habilidades que eles tinham e quais adquiriram no decorrer do processo”, explica.
Os alunos aptos a continuar os estudos após os sete meses do programa são encaminhados a escolas de seus municípios. “Ao final do curso, nós encaminhamos às secretarias municipais de educação as listas dos alunos aptos a continuar os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Pedimos que as secretarias encontrem escolas mais próximas ao local onde eles moram. É um trabalho árduo, pois esse público não pode ser obrigado a frequentar uma sala de aula. O que podemos fazer é incentivá-lo”, disse Martirez.
Sergipe Alfabetizado
Desde que foi instituído pelo Governo de Sergipe, o programa já alfabetizou mais de 170 mil pessoas acima dos 15 anos. O Sergipe Alfabetizado está em consonância com o Programa Brasil Alfabetizado, do Governo Federal, e tem como meta iniciar o processo de alfabetização de jovens e adultos para erradicar o analfabetismo no Brasil.
No módulo 2010/2011 (dezembro de 2010 a junho de 2011), o processo de alfabetização foi iniciado com 40 mil alunos cadastrados. Concluíram o curso 33.704 pessoas. Deste total, 21.085 alfabetizandos foram considerados aptos a continuar os seus estudos na EJA.
- Trinta mil alunos do Sergipe Alfabetizado já estão em sala de aula – A estudante de pedagogia Jéssica Brito