Arraiá do Povo: Jorge de Altinho se apresenta no Arraiá do Povo
* Por Paloma Abdallah
Pernambucano de Olinda, 300 músicas, 38 discos e 28 anos de carreira, Jorge de Altinho é um dos ícones da música que transcende a qualquer regionalismo. Dono de composições que ficaram famosas na voz de outros cantores, a exemplo de ‘Petrolina-Juazeiro’, Jorge ainda guarda a simplicidade de um iniciante. Dos 36 shows marcados para este mês de junho, a apresentação no Arraiá do Povo nesta terça-feira, 24, é a 22ª. “Eu não sei se no próximo ano agüento uma agenda tão puxada”, disse o cantor. Antes de subir ao Palco Clemilda, o artista conversou com a equipe da Agência Sergipe de Notícias para contar alguns detalhes da sua história.
Agência Sergipe de Notícia – Não foi bem pelo forró que começou sua história com a música.
Jorge de Altinho – Aos 16 anos, antes mesmo de casar, minha mãe já sabia que teria um filho cantor. Uma cigana disse a ela. Aos 10 anos, já escrevia algumas músicas na escola. Na adolescência, a influência veio da Jovem Guarda. Só quando passei em um concurso para técnico de comunicação e fui morar no sertão pernambucano, é que nasceu o interesse pela música nordestina.
ASN – A partir daí, qual o rumo que deu na sua carreira?
JA – Comecei a compor. Os primeiros a gravarem foram Trio Nordestino. Tive sorte: todas as minhas músicas que o Trio gravou, fizeram sucesso. Isso fixou meu nome entre os controladores de rádio e diretores de gravadoras. Então recebi o convite para gravar minhas composições. Saí do Nordeste e fui para o Rio de Janeiro gravar o primeiro LP. O disco vendeu 140 mil cópias e trouxe um forró mais urbanizado em letras e arranjos, guitarras e sanfonas.
ASN – Quando veio a idéia de colocar metais no que era feito com triângulo, zabumba e sanfona?
JA – Foi no segundo. Queria fazer algo diferente. Quis resgatar elementos das orquestras filarmônicas que vão atrás das procissões de interior e colocar no forró. Isso foi inédito e quebrou algumas barreiras. Na época, a FM só tocava Bossa Nova e Tropicália. A partir dos metais nas minhas músicas, eles começaram a tocar nas FM’s achando que não era musica nordestina.
ASN – E era?
JA – Era! Pelo menos, eu acredito que sim. Na minha cabeça, eu estava enrolando eles.
ASN – Como está a carreira do compositor Jorge de Altinho?
JA – Hoje, eu tenho mais preguiça de compor para os outros. Tenho muita coisa guardada que não passei para ninguém. Tenho até que trabalhar isso em mim. Não sei bem a razão de guardar tanta coisa. No prêmio Tim de Música, onde Dominguinhos foi homenageado, eu encontrei com Alcione e ela me disse “Estou sabendo que você tem uma música que é a minha cara, chamada Jogo Aberto”. No fundo, acho que sou meio descuidado para essas coisas. E minhas músicas vão ficando guardadas, do rock ao forró.
ASN – Compor requer mais dedicação ou é inspiração?
JA – É um dom. Às vezes você quer fazer um trabalho, mas não consegue. Por exemplo, eu estou começando a trabalhar meu segundo DVD, mas até agora só estou com cinco músicas. Não gosto de fabricar música, gosto de contar a minha história, a sua história, a dele… Música é isso!
ASN – Depois de tantos sucessos, o que esperar para carreira?
JA – Eu já cheguei mais longe do que esperava. Gravei com grandes nomes da música brasileira. Zé Ramalho já me deu ‘Alforria’, música composta por ele, para gravar. Gravei com nomes como Fagner, Dominguinhos e até Luiz Gonzaga. Agora estou com vontade de chamar colegas um pouco diferentes para gravar comigo, como Djvan, Alcione.
ASN – A música nordestina ainda sofre preconceito no sul do país?
JA – Não. Acredito que hoje a música nordestina é um hino. Quem ajudou bastante a quebrar essas barreiras foram os meninos do Falamansa, que hoje tocam para todos os públicos, que fazem sucesso entre todas as classes.
ASN – A expansão do forró eletrônico é uma ameaça ao forró dito tradicional?
JA – Eu acho que a tendência é mudar um pouco. É duro dizer isso, mas é verdade. Muito sertanejo substituiu o jumento pela moto, o chapéu de couro pelo boné. Já dizia Belchior na voz de Elis Regina ‘o novo sempre vem’. Não é que o forró tradicional vai acabar, mas vai se modificar.
ASN – Presença certa no Forró Caju e participando pela segunda vez do Arraiá do Povo, qual a avaliação que você faz dos nossos festejos?
JA – Eu acho que Aracaju tem hoje um dos maiores eventos do país. Não me restrinjo a São João, estou falando de todos os tipos de evento. O atendimento o para artista, espaço para chegarmos com o ônibus no local, hospedagem, dois palcos para o público não esperar, qualidade de luz, som. Existe muito São João por aí, mas nenhum com essa estrutura.
- Arraiá do Povo: Jorge de Altinho se apresenta no Arraiá do Povo – Foto: Wellington Barreto