Período de chuvas favorece aumento de casos de leptospirose
O Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE) vem registrando um aumento no número de atendimento a casos de leptospirose nessas últimas semanas. Em 2008, dos 10 casos confirmados da doença pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (NVEH/ HUSE), sete foram registrados no mês de maio. Até o momento, o serviço já confirmou um caso de óbito por leptospirose na unidade.
O número crescente de atendimentos a vítimas de leptospirose no HUSE pode ser explicado pelo aumento no volume de chuvas no mês de maio e pela conseqüente ocorrência das fortes enchentes que atingiram municípios como Laranjeiras, Santo Amaro e Maruim, que já registram casos confirmados da doença este ano.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HUSE, Marco Aurélio Góes, anualmente o HUSE registra uma média de atendimentos a casos de leptospirose que é relativamente baixa quando comparada a outras doenças como a dengue, por exemplo. Segundo ele, o número gira em torno de 40 casos por ano, concentrando as maiores incidências nos meses com chuvas mais intensas.
"Por se tratar de uma doença que nos seus primeiros dias de manifestação apresenta sintomas muito indefinidos, semelhantes a outras doenças como a dengue, por exemplo, é importante que os profissionais de saúde fiquem alertas aos sinais de alteração respiratória, a presença de tosse seca, diminuição da urina e às alterações na coloração dos olhos, que são sinais que podem indicar o diagnóstico da leptospirose", explica Marco Aurélio Góes.
Segundo ele, a Coordenação de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde (SES) vem orientando os médicos do Programa Saúde da Família (PSF) dos municípios afetados pelas enchentes a encaminharem todos os casos suspeitos de leptospirose ao HUSE. Além disso, a SES mantém equipes da Vigilância Epidemiológica, Sanitária, Samu 192 Sergipe e outras áreas da Saúde nos municípios atingidos pelas chuvas.
Dados
No ano de 2007, o Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar do HUSE confirmou a chegada de 68 casos de leptospirose na unidade, sendo 11 deles no mês de maio. Este aumento no mesmo período também foi acompanhado em 2008, saindo de 3 casos confirmados no ano até o mês de abril, para 10 em maio.
De acordo com os dados do NVEH/HUSE, os municípios de Aracaju e Nossa Senhora do Socorro continuam sendo os que mais demandam casos de leptospirose para o HUSE. Dos 66 casos atendidos na unidade no ano passado, 58% era oriundo de um desses municípios. Este ano, a situação não difere muito. Dos 10 casos confirmados até o momento, dois deles são provenientes de Aracaju e os outros dois de Nossa Senhora do Socorro. Os demais são oriundos dos municípios de Itaporanga D’Ajuda, Maruim, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão e Tobias Barreto.
De acordo com Marco Aurélio, a alta taxa de letalidade da leptospirose é que torna a doença mais preocupante em relação ao diagnóstico preciso para o tratamento. "Em 2007, dos 68 casos atendidos no HUSE, 16 foram a óbito, o que reflete uma taxa de 23,5% dos casos".
Leptospirose x Dengue
A leptospirose é uma doença sistêmica aguda causada por uma bactéria do gênero Leptospira, que acomete homens e animais, ocorre principalmente em épocas chuvosas, está diretamente relacionada às condições de saneamento básico das comunidades e, por isso, deve ser alvo de preocupação constante dos municípios. Ao Estado, cabe a oferta de tratamento à doença nos hospitais.
Assim como a dengue, a leptospirose é uma doença de notificação compulsória. Sua transmissão se dá através da urina de ratos infectados, que pode estar misturada às águas e lamas de enchentes, córregos e esgotos. Através do contato, a leptospira penetra no corpo pela pele, principalmente quando em contato com algum ferimento ou arranhão.
Os sintomas mais freqüentes da leptospirose são muito parecidos com os de outras doenças, como a gripe e as viroses. Mas é, sobretudo, em relação à dengue que a doença apresenta mais evidências, manifestando febre, dor de cabeça e dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas, podendo também ocorrer coloração amarelada da pele e mudança na coloração dos olhos.
Tratamento
De acordo com a médica infectologista Iza Lobo, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HUSE (CCIH/SCIH), o tratamento da leptospirose, assim como o da dengue, deve ser à base de elevada hidratação, sobretudo durante os quatro primeiros dias em que a doença se manifesta. Ela explica que é justamente durante este período que o paciente apresenta sintomas muito parecidos com os da dengue.
"Nos dois casos, o paciente precisa ser tratado com muita hidratação e geralmente só após os quatro primeiros dias de manifestação é que o médico pode traçar um diagnóstico mais preciso", explica Iza Lobo, enfatizando que no caso da leptospirose o tratamento deve ser complementado com antibióticos.
Ainda de acordo com Iza Lobo, as dúvidas dos profissionais na hora de diagnosticar se um paciente está com dengue ou leptospirose são potencializadas ainda mais pelo fato de ambas surgirem sazonalmente em períodos semelhantes, que são os meses mais chuvosos.
Segundo ela, a diferença básica entre ambas as doenças é que no caso da dengue as dores de cabeça são mais intensas, acompanhadas por dores nos olhos e no restante do corpo. Já a leptospirose causa dores que se concentram mais na região da panturrilha, além de dores lombares. "O cuidado com a leptospirose deve ser maior pelo fato da doença apresentar mais complicações que podem levar a uma hemorragia pulmonar ou a problemas renais gravíssimos", conclui Iza Lobo.
[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text]- Período de chuvas favorece aumento de casos de leptospirose – Iza Lobo / Foto: Edson Araujo