[vc_row][vc_column width=”2/3″][vc_column_text]A prática de exercícios físicos e a habilidade para tocar um instrumento musical podem se constituir em barreiras quando um dos sentidos humanos é afetado. Capazes de transpor os limites impostos pela perda total ou parcial da visão, os alunos do Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAP), vinculado à Secretaria Municipal de Educação, são capacitados a realizar com propriedade essas e outras atividades.
O CAP é uma unidade mantida pela Prefeitura de Aracaju que se destina prioritariamente a portadores de deficiência visual matriculados no ensino infantil, fundamental e médio de escolas públicas. Além desse público, atende ainda pessoas da comunidade, alunos de escolas técnicas e particulares. No total, cerca de 150 usuários cegos ou com visão subnormal têm acesso gratuito a recursos necessários ao seu atendimento educacional e desenvolvimento pessoal.
“Nossa função principal é fornecer apoio pedagógico para a escola, mas também temos a alfabetização em braile e a técnica do sorobã (cálculo matemático) para pessoas que ainda não estão inclusas no ensino regular”, diz a coordenadora da instituição, Margarida Teles. Nessa situação se encontra Rosineide Alves, que está sendo preparada para ser incluída no ensino fundamental. Ela está recebendo aulas de leitura e escrita do Sistema Braille. “Estou aprendendo a soletrar e, devagarzinho, eu chego lá”, disse, com o sorriso de quem sente a alegria de poder, aos 18 anos, emitir por meio da leitura, as primeiras letras. “Antes de vir para cá eu ficava o tempo inteiro em casa, assistindo televisão e ouvindo rádio”, completa.

Atividades

Além do aprendizado da leitura e escrita, bem como do desenvolvimento de cálculos matemáticos simples e complexos, os alunos do CAP podem contar também com aulas de orientação e mobilidade, música, natação, educação física adaptada, arte e educação, treinamento visual (para pessoas com visão subnormal) e avaliação oftalmológica. Ao se cadastrar, o aluno pode escolher até quatro atividades.
O atendimento em cada uma dessas áreas se dá de forma individual ou em grupo de até dez pessoas. “A gente trabalha conforme a idade e nível de aprendizado de cada um”, afirma a coordenadora.
A faixa etária dos alunos varia entre 7 a 70 anos, o que requer dos profissionais a qualificação necessária para desenvolver atividades especializadas e de acordo com a necessidade de cada público. “Todos os nossos professores são da rede municipal de ensino e devidamente capacitados na área de deficiência visual”, garante Margarida Teles.
O CAP oferece também campo de pesquisa para profissionais e estudantes das diversas instituições de ensino superior da capital, o que favorece o intercâmbio entre realidades distintas. “As universidades enviam alunos para conhecerem o trabalho desenvolvido aqui e fazerem pesquisas. Nossos profissionais vão às universidades dar palestras e levamos alunos para darem seus testemunhos pessoais”, informa a coordenadora.

Arte a serviço da vida

Nas atividades de arte e educação, os alunos utilizam instrumentos como jornal, azulejo, meia de seda, retalhos de tecido e gesso. O resultado da habilidade e criatividade de cada um pode ser comprovado em forma de tapetes, mosaicos, cestas e utensílios diversos, que criam sob a orientação das professoras Eliana Santos e Lívia Viana.
A limitação da visão é compensada com a apurada sensibilidade nos dedos e mãos, que revelam, no toque, a beleza do material produzido. “Fazer esse trabalho é muito importante para mim porque estou me exercitando e sempre em movimento”, diz a deficiente visual Marieta Queiroz, 55 anos, enquanto cola os azulejos do mosaico que produz.
Aos 11 anos, dona Benigna Conceição, 48, perdeu a visão do olho esquerdo. Portadora de glaucoma e miopia no olho direito, ela conta as dificuldades para enxergar. “Aos poucos estou perdendo a visão também no olho direito. Para enxergar o nome dos ônibus, por exemplo, eles têm que estar bem perto de mim”, revela. Sem emprego e com quatro filhos dependentes de seu sustento, ela diz que o trabalho artesanal funciona como fonte de renda e fortalece a união entre os alunos. “Me sinto muito feliz em fazer esse trabalho. Às vezes vendo os produtos que faço aqui no CAP, onde todos somos unidos, graças a Deus”, afirma, sorrindo.
Seu Antônio Cardoso, 57, perdeu 80% da visão há cinco anos, vítima de glaucoma e degeneração da retina. Acostumado ao livre trânsito e a guiar pessoas, o motorista aposentado conta que havia perdido o gosto pela vida. “Passei os últimos cinco anos em casa, onde eu me sentia um inválido e não tinha prazer para nada”, lembra.
No dia em que foi a SMTT solicitar o passe livre nos transportes urbanos, seu Cardoso foi orientado a procurar atendimento no CAP. “Estou aqui há seis meses e desde esse tempo voltei a ter vontade de viver”, conta. Ele pratica exercícios físicos, faz pintura, trabalha com mosaico e está aprendendo a tocar teclado. “Até dancei quadrilha no São João”, revela, entusiasmado.
Ele diz ainda que o medo de sair de casa deu lugar à coragem para enfrentar os desafios. “Estou perdendo o medo, aprendi a pegar ônibus e agora já saio de casa sozinho”, conta, vitorioso.
Seu Cardoso revela que os desafios são mais fáceis de serem superados quando se tem apoio. “Desde que entrei aqui no CAP nunca pensei em sair. Os professores nos animam muito. Tendo uma ajuda dessa, como pensar em desistir?”, questiona.
Para os profissionais que prestam atendimento no CAP, é dos usuários que recebem o maior aprendizado. “Aprendo mais com eles do que eles comigo. E o maior desafio é descobrir que não sabemos nada. É preciso adaptar o mundo dito “normal” para receber os deficientes”, afirma Margarida Teles.
Com um serviço especializado e especificamente voltado para a assistência das necessidades dos portadores de deficiência visual, o CAP da Prefeitura de Aracaju é referência estadual no tratamento desse público. A instituição está situada na rua Vila Cristina, 194, e funciona de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30.[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text]

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