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A comunidade Serra da Guia, distante 45 quilômetros da sede do município de Poço Redondo, reconhecida como descendente de africanos escravizados, e que mantém suas tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos, recebeu recursos do Governo do Estado de Sergipe, por meio da Empresa de Desenvolvimento Sustentável do Estado de Sergipe (Pronese), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, para revitalização da cultura quilombola. A própria comunidade foi quem decidiu que os recursos fossem investidos neste tipo de ação.

O projeto foi apresentado à Pronese pela Fundação Dom José Brandão de Castro com o objetivo de revitalizar a cultura quilombola da Serra da Guia através de oficinas culturais para as crianças e adolescente que envolve artesanato, dança, capoeira, culinária e até preservação ambiental.

“A partir das oficinas eles manterão vivo todo o conhecimento dos seus ancestrais, reavivando as manifestações culturais como capoeira, samba de coco, a dança afro São Gonçalo e também o artesanato local feito em bordado à mão, renda de bilro, pintura, ou ainda, artesanato em palha de licuri. Dentro do projeto teve lugar também para as pesquisas sobre a cocada preta e o pirão de mulher parida, além das oficinas de mudas de orquídeas, onde o grande celeiro é em cima da Serra da Guia”, explicou Marluce Rocha Falcão, presidente da Fundação Dom José Brandão.

A diretora de Operações da Pronese, Marta Leão, explicou que o investimento em comunidade quilombola é uma prioridade dentro do Projeto de Combate à Pobreza Rural (Prosperar) realizado pela Pronese. O entendimento de priorizar as comunidades quilombolas foi feito pelo governador Marcelo Déda ao firmar parceria com o Banco Mundial ainda na fase de concepção deste Projeto.

“Para se ter uma ideia do investimento, a Pronese investiu R$ 1.392.016,58 na realização de 18 projetos comunitários em 10 comunidades quilombolas já reconhecidas pela Fundação Palmares. Com estes investimentos, o governo está ajudando aos quilombolas a desenvolver ações que resgatam suas origens culturais e geram renda e desenvolvimento sustentável”, comentou a diretora.

Marta Leão disse que vai propor ao governador em exercício, Jackson Barreto, uma visita  àquela comunidade para mostrar um excelente exemplo de resgate quilombola numa parceria entre comunidade e governo. Para se chegar à Serra da Guia, os visitantes também podem passar por uma nova rodovia construída pelo Governo Estadual, ligando a Rota do Sertão ao povoado Santa Rosa do Ermírio.

Manter viva a arte da renda e do bordado

A professora Maria Aparecida de Góis, 39 anos, moradora da comunidade Bom Jardim disse que a renda de bilros é uma arte que não se fazia mais na Serra da Guia. As antigas bordadeiras não repassaram para as novas gerações. “Por este motivo é que fui convidada pela Fundação Dom José Brandão de Castro para repassar a arte para uma turma de 16 crianças entre oito e 12 anos”, disse Aparecida.

Segundo ela, esta é uma atividade que se aprende desde a infância e citou o exemplo da mais nova aluna, Vitória Aline, de oito anos que depois de cinco meses, já consegue fazer uma renda de 5 centímetros de largura usando 36 bilros. Citou também o caso do primeiro menino a vencer o preconceito e aprender a arte da renda, José Aclécio dos Santos, de 11 anos.

“A renda de bilros é uma boa fonte de renda, dependendo da qualidade e do tamanho da renda pode ser comercializado entre R$ 15 a R$ 200. A renda de bilros é realizada sobre uma almofada dura em forma de cilindro de pano grosso, cheio com palha, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino. A almofada fica sobre um suporte de madeira, de forma a ficar à altura do trabalho da rendilheira. Na almofada é colocado um cartão perfurado, onde se encontra o desenho da renda, feito com pequenos furos.

Nos furos da zona do desenho que está a ser realizada, a rendilheira espeta alfinetes, que desloca à medida que o trabalho progride. Os fios são manejados por meio de pequenas peças de madeira torneada, os bilros. Uma das extremidades do bilro tem a forma de esfera. O fio está enrolado na outra extremidade. Os bilros são manejados aos pares pela rendilheira que imprime um movimento rotativo e alternado a cada um, orientando-se pelos alfinetes. O número de bilros utilizado varia conforme a complexidade do desenho”, descreve a professora.

Os bordados em “ponto cruz” e rendendê estão sendo ensinados pelas próprias bordadeiras da Serra da Guia, Sônia Muniz da Silva e Valdineide dos Santos Correia, duas vezes por semana, às terças e quintas-feiras. “Também voltado especialmente para as crianças tendo em vista manter viva a cultura do bordado. E não preciso muita coisa, apenas linha, um pedaço de teciso e agulha. No mais, é contar com a paciência e a criatividade”, explica Valcineide.

O jeito quilombola de fazer dança e capoeira

A capoeira e a dança afro são as atividades de maior participação das crianças e adolescentes. O professor de capoeira José Robson do Nascimento diz que 42 crianças participam destas atividades, entre eles meninos e meninas. Para ele, “a capoeira e a dança afro trazem grandes benefícios para as crianças, elas se sentem motivadas para os estudos e praticam valores como união e harmonia, além de estarem afastadas da marginalisdade”.

Segundo a presidente da Fundação Dom José Brandão de Castro, Marluce Rocha Falcão, que coordena a execução do Projeto, a dança e a capoeira têm características próprias daquele povo do sertão. “A dança São Gonçalo, por exemplo, carrega cores como o azul e o branco, diferente desta mesma dança em Laranjeiras que traz o amarelo, verde, azul e vermelho. As crianças têm bambém oficina de percussão e rítmos afro com o professor Vanisso Santana. Duas vezes por semana eles entram em contato direto com o atabaque, timbale, agogô, ripique e surdão”, acrescenta Marluce.

Preservação e propagação das orquideas

O projeto também contempla a preservação e propagação das orquídeas nativas que crescem no alto da Serra da Guia, onde se encontram vegetação com característica de Mata Atlântica. “Turistas de todo o país veem conhecer e apreciar as orquídeas de nossa comunidade”, disse a líder comunitária Zefa da Guia.

A produção inicial estimada foi de 40 mudas. Foram coletadas em torno de nove galhos com varias ramificações de folhas das orquídeas. Destes galhos, estão sendo retiradas as mudas não causando assim impacto na população das orquídeas que se encontram fixado nos troncos das árvores.

Amarize Cavalcante, técnica da Pronese, falou da importância do resgate da história da comunidade quilombola. “Esse projeto foi desenvolvido com muita seriedade e cumpriu seu objetivo, que é resgatar essa manifestação cultural. Com muita satisfação estou estive presente desde o primeiro momento. Sei que os resultados serão um sucesso e espero que a comunidade sinta-se cada vez mais motivada a preservar suas origens culturais”.

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