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* Por Felipe Nabuco, repórter da FHS

O aposentado Pedro Viera do Nascimento, 54 – morador do município de Lagarto, distante a 75 km de Aracaju – precisou retornar quatro vezes, nas últimas semanas, ao Hospital Regional da cidade onde mora para acompanhar sua mãe, de 80 anos, diagnosticada com sintomas de fortes dores nas costas e no estômago. Na última vez que foi levá-la às pressas para unidade, Pedro – que não tem computador, muito menos internet em casa – presenciou uma técnica que permitiu a um médico cardiologista diagnosticar e propor o tratamento mais adequado ao coração da sua mãe em menos de 10 minutos, a mais de 400 km de distância.

A técnica, conhecida como Telemedicina, já é uma realidade nos hospitais públicos de Sergipe, geridos pela Fundação Hospitalar de Saúde (FHS). Sua utilização tem refletido na prática cotidiana dos centros de saúde os benefícios proporcionados pela evolução das tecnologias de comunicação à distância, na medida em que funde a técnica médica à tecnologia de um software de comunicação. “Isso nos permite, antes de mais nada, suprir a presença física de cardiologistas e radiologistas na unidade – especialidades consideradas escassas na Região Nordeste”, explica o diretor operacional da FHS, Edvaldo Santos.

Este suporte é oferecido por internet, através de um contato direto entre o médico solicitante, que tem a sua frente o paciente, e o cardiologista de plantão que recebe, à distância, as informações em tempo real, repassa o diagnóstico preciso e o recurso terapêutico recomendado. Com isso, a reversão do quadro clínico do paciente é imediata, o que evita óbitos e sequelas graves nos pacientes.

“O grande ganho proporcionado pela Telemedicina está na precisão de um diagnóstico fornecido por um especialista. Com esta precisão, podemos iniciar o tratamento imediatamente e reverter o quadro clínico aqui mesmo no hospital, sem precisar encaminhar o paciente para capital”, explica o clínico do Hospital Regional de Lagarto, Paulo Gonzaga.

Descentralização

A Telemedicina está sendo implantada pela FHS em todos os hospitais públicos de Sergipe. Atualmente, além do Hospital Regional de Lagarto, este recurso já está em funcionamento no Hospital Regional de Itabaiana; no Hospital Regional de Nossa Senhora do Socorro; no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) e na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes (MNSL), ambos localizados na capital. A técnica deve chegar, nos próximos meses, a 12 unidades da rede.

Os ganhos proporcionados são imediatos, pois garantem agilidade e qualidade no atendimento. “Em se tratando de patologias cardíacas, não podemos esquecer que o fator tempo é decisivo para salvar vidas e evitar sequelas ao paciente”, explica o diretor operacional da FHS. O benefício também é sentido no bolso e na satisfação de quem é atendido pelo serviço. Há poucos anos – quando os primeiros sintomas relacionados ao coração surgiram – o mesmo Pedro Vieira precisou levar sua mãe ao Huse para garantir ao menos o diagnóstico, já que o exame em questão, o eletrocardiograma (ECG), não estava disponível em hospitais do interior do estado.

“Ainda que ele conseguisse realizar o exame em algum dos hospitais do interior, ele era encaminhado do mesmo jeito à capital, pois não havia o respaldo técnico de um especialista que possibilitasse o início do tratamento com segurança na própria unidade. Isso gerava bastante desconforto, além do fator risco, já que há uma luta contra o tempo para salvar a vida do paciente”, contextualiza Edvaldo Santos.

Ao reverter os casos de infarto agudo do miocárdio nas próprias unidades do interior, a FHS tem acabado com a necessidade de deslocamento de pacientes para capital, o que minimiza custos de acompanhantes com transporte e alimentação. Além disso, o serviço passa a oferecer ao usuário do sistema a comodidade de estar sendo assistido próximo de casa.

“Essa lógica também reflete o processo de descentralização da assistência, já que agora pacientes de diversos cantos do estado passam a contar, próximos de suas casas, com o mesmo recurso disponibilizado antes somente na capital”, enfatiza o diretor geral da Fundação, Emanuel Messias, ao se referir ao tratamento de infarto.

Hoje, apenas são deslocados para Aracaju pacientes em situações em que a intervenção cirúrgica é necessária, o que corresponde à minoria dos casos. Consequentemente, o maior hospital público de Sergipe também passa a ser beneficiado, uma vez que diminuindo o número de pacientes encaminhados pelos hospitais do interior também se diminui a sobrecarga no Huse.

Expansão

Avaliando os benefícios proporcionados pela Telemedicina nas áreas de cardiologia e ortopedia, a FHS já cogita implantar também, nos próximos meses, o serviço para o diagnóstico e tratamento de casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como derrame.

“A nossa expectativa é que em junho estejamos implantando o eletrocefalograma por meio da Telemedicina. Com isso, vamos também qualificar o diagnóstico de morte cerebral, o que vai melhorar sobremaneira a captação de órgãos para transplantes em todo estado”, destaca Edvaldo Santos.

Ao lado do infarto agudo do miocárdio, o AVC está entre as principais causas de morte no Brasil e no mundo. Por ano, ambas as doenças matam mais de 150 mil brasileiros. De acordo com especialistas, boa parte dessas mortes poderia ser evitada com medidas de prevenção e socorro correto e rápido.

Telemedicina

O serviço de Telemedicina é oferecido mediante contrato firmado entre a FHS e a empresa Telemedicina da Bahia. Atualmente, a empresa presta serviço a 14 estados brasileiros e é responsável pelo laudo médico de mais de 21.000 ECGs por mês, além de mais de 1000 imagens de Raios-X digitalizadas, para os quais os Radiologistas de plantão fornecem os laudos.

Cada unidade de Telemedicina é composta de um computador completo, um sistema “Wincardio”, para realizar o ECG, e uma interligação com a Internet, seja via rádio, Velox ou sistema Vivozap. Todos os equipamentos são fornecidos em forma de comodato e as instalações são feitas pela Telemedicina. Os laudos são fornecidos via Internet, através do programa Receptor, que permite imprimi-los diretamente na impressora sem a intervenção do operador.

Especialistas avaliam o papel da telemedicina

A implantação da técnica de Telemedicina em hospitais públicos do interior de Sergipe vem sendo vista com bons olhos por médicos especialistas. De acordo com a cardiologista do Hospital do Coração, Ana Luiza da Cunha Vahle, o estado apresenta hoje um défict de profissionais na área de cardiologia, o que dificulta a presença destes nos hospitais do interior.

“O ideal seria que tivéssemos cardiologistas em todos os hospitais, entretanto, sabemos que não há profissionais disponíveis no mercado. Atualmente, temos cardiologistas no Huse e no Hospital Cirurgia, que acabam sendo a referência para toda rede”, comenta Ana Luiza Vahle.

Ela também destaca os benefícios do novo recurso para os usuários do SUS em Sergipe. “Já tinha conhecimento da utilização desta técnica em outros estados, mas não que já estava sendo implantada nos hospitais do interior de Sergipe.  Vejo como uma ótima saída, já que o que se espera com a Telemedicina é a reversão dos quadros de infarto ainda na própria unidade. Isso certamente vai reduzir muito o encaminhamento de usuários do interior para os hospitais da capital”.

Outro fator também destacado pela cardiologista concerne à otimização do tempo para diagnosticar e iniciar o tratamento. “Sabemos que as doenças do coração requerem uma atenção redobrada com relação ao tempo. Elas precisam ser tratadas com certo imediatismo, pois é a ação rápida que evita sequelas e óbitos”, conclui.

 

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