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Por Igor Matheus

O Nordeste brasileiro possui três Canindés. Só uma, porém, é do São Francisco: a sergipana, localizada a 213 quilômetros da capital e banhada pelo rio que a identifica, um dos mais extensos e importantes do país. Mas apesar do privilégio de margear o imenso Velho Chico, o município nunca conseguiu usufruir de um abastecimento de água correspondente com a disponibilidade do recurso. Retirado de um canal de irrigação administrado pela Cohidro, o líquido era o mesmo do rio, mas sempre em quantidade insuficiente para a população. “Aqui era assim: ou faltava água bem cedo pra chegar de noite ou faltava de noite pra chegar no outro dia. Água o dia todo é que era impossível. Por causa disso, o jeito era sair de casa pra lavar roupa no canal ou, às vezes, no próprio rio”, detalhou a dona de casa Joana Fernandes, moradora do município.

Por meio de aplicação de cerca de R$ 6 milhões em convênio com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), o Governo de Sergipe encerrou essa situação e forneceu a Canindé o que lhe era de direito: um sistema de abastecimento de água digno e condizente com sua proximidade da maior fonte hídrica disponível no estado. Entregue no último dia 19 de junho pelo Governo do Estado, a nova estrutura permitiu o estabelecimento de um processo de captação independentemente do sistema controlado pela Cohidro.

Os investimentos foram aplicados em ampliação e automação da estação de tratamento, aquisição de sete bombas (três para bombeamento de água bruta e quatro para tratamento), implantação de dois reservatórios (1000 m³ e 100 m³), instalação de duas adutoras (uma para condução desde a casa de bombeamento para a estação de tratamento e outra que parte da estação de tratamento para o fornecimento de povoados e assentamentos da região) e para implantação de mais 15 mil metros de rede de distribuição. Também integra as ações a construção de um escritório de atendimento ao consumidor, obra orçada em R$ 128.000,00 em recursos estaduais.

Diferenças

Para a população, já era muito difícil. Mas também não era nada fácil aos administradores e operadores da antiga estação de tratamento de Canindé ter de administrar a escassez. “A distribuição começava às seis da manhã. E lá pelas oito da noite tínhamos que fechar o reservatório para guardar a água e voltar a distribuí-la pela manhã. Mas ainda havia lugares piores. Nos pontos mais altos da cidade, o abastecimento já parava antes das 11 da manhã”, detalhou José Gilberto Góis, operador do sistema de Canindé. Já de acordo com o gerente regional da Deso no Sertão, Carlos Anderson Ferreira, não era possível fornecer água para a cidade inteira de uma vez só.  “Era preciso abastecer um lado da cidade de cada vez. E tínhamos que fazer manobras constantes para assegurar o abastecimento dos bairros mais altos.”, explicou.

A partir das intervenções do Governo de Sergipe, mudaram-se rotinas, procedimentos e números. A ampliação do sistema permitiu o aumento da vazão de anteriores 4.000 m³ por dia para 7.700 m³ diários – valores que representam, em termos práticos, aumento de oferta e o fim do tormento da falta diária de água para milhares de pessoas. “Hoje, a atual situação do fornecimento de água permite a distribuição durante 24 horas em todos os pontos da cidade”, ressalta o operador Gilberto Góis.

De acordo com o gerente Carlos Ferreira, o novo sistema de abastecimento apresenta inúmeras diferenças em relação ao antigo, todas convergindo para a otimização da distribuição e do tratamento. “Com essa ampliação e reestruturação do sistema, o processo que utilizamos aqui passou a ser completamente diverso do que era usado na estação antiga. O novo sistema possui capacidade maior e é automatizado, tratando-se, atualmente, do mais moderno que existe no estado”.

Do Xingó à torneira

As mudanças já se iniciam no processo de captação. Se antes o bombeamento era feito a partir de um canal de irrigação situado nos arredores da cidade, agora a obtenção de água se dá a partir do fluxo que chega, por gravidade, através de uma adutora de 2.500 mm de diâmetro pertencente à Cohidro e vinda do Lago de Xingó. “A água que vem desse local possui menos impurezas do que outros trechos do rio são Francisco, uma vez que ela é naturalmente decantada. Logo, começamos o tratamento já a partir de uma água de excelente qualidade”, explicou o operador José Gilberto Góis.

A partir da recepção, a água é impulsionada por duas motobombas a um fluxo de 158 m³/hora até a estação de tratamento, percurso que o líquido realiza no interior de uma adutora de 1,6 km de extensão. Uma vez na estação, o fluido recebe a adição de uma substância coagulante, o policloreto de alumínio (mais eficiente que o sulfato de alumínio usado anteriormente), e ar. A combinação estimula a sobressalência das impurezas e permite que apenas o líquido desça através das camadas de areia, cascalho e carvão ativado que compõem os filtros. “Depois de filtrada, a água passa por desinfecção com cloro e recebe flúor, tornando-se, assim, água tratada”, detalha o operador Gilberto Góis.

Em seguida, o líquido é retido no chamado reservatório apoiado, recipiente com mais de 1.000 m³ de capacidade que integra as inovações da ampliação e contribuiu para triplicar a capacidade de armazenamento do sistema. É a partir dele que o fluido é impulsionado, por meio de duas bombas, para dois reservatórios elevados: um de 500 m³, situado dentro da própria estação de tratamento e voltado para a sede do município, e outro de 100 m³, destinado ao inédito atendimento de comunidades rurais, povoados e assentamentos.  “No passado, as comunidades recebiam água apenas desinfectada com cloro. Com toda essa reforma e ampliação do sistema, elas passaram a receber uma água filtrada, com cloro e flúor. Uma água, enfim, de excelente qualidade”, disse.

Automação e compromisso ambiental

Antes manuais, todos os mecanismos de controle do sistema de abastecimento de Canindé agora são automatizados e controlados por um computador. O software controla desde o registro das ocorrências do processo de tratamento e distribuição, tais como análises laboratoriais, vazões e níveis de filtro, até as dosagens químicas. “Um dos principais avanços da automação foi na medição da quantidade de cloro a ser utilizada na água. Antes, essa análise era feita visualmente no comparador. Era um procedimento trabalhoso, impreciso e inseguro. Agora, as verificações são realizadas pelo computador e em tempo real. Dessa forma temos mais precisão e ficamos muito menos vulneráveis a erros humanos de cálculo ou de visualização”, explicou Carlos Anderson.

A tecnologia também permite a rápida identificação de problemas ao longo do processo de tratamento. “Em caso de vazamentos, o computador aciona um alarme. E quando a vazão alcança níveis abaixo de 10 litros por segundo, todo o sistema é desligado automaticamente, evitando assim problemas de excesso de dosagem de substâncias em uma quantidade de água insuficiente”, disse o operador José Gilberto. Ainda de acordo com o técnico, a eficiência do fornecimento não é completamente refém da automação das ferramentas. “O computador atuante acompanha uma máquina reserva para substituí-lo em imprevistos. Mas, em todo caso, toda a estrutura manual está mantida para situações de emergência. Em ocasiões de pane elétrica e inutilização de todos os comandos por computador, a cidade não vai ficar sem água”.

Além da precisão nas etapas, o novo sistema de abastecimento também agrega procedimentos ambientalmente corretos. A água utilizada no processo de lavagem dos filtros – ação executada pelo menos uma vez por dia para retirar resíduos do recipiente que abriga a filtração -, antes simplesmente descartada nos mananciais, retorna ao próprio sistema como água bruta e é tratada novamente. “O fluido que sai dessa limpeza é armazenado em tanques denominados ‘de equalização’ e retorna para virar água tratada. Dessa forma, não temos nenhuma perda de água durante o processo, excetuando-se, é claro, aquela que evapora. O líquido que entra é quase que 100% aproveitado para tratamento, algo que não ocorre em estações de tratamento convencionais”, observou o gerente Carlos Anderson.

Outro benefício inédito proporcionado pelo Governo de Sergipe para a população de Canindé foi a instalação do escritório de atendimento ao consumidor, situado em uma área de 50 m² anexa à estação de tratamento. Segundo Carlos Anderson, o município será o segundo das 21 cidades da divisão regional a possuir um espaço com estrutura completa para registrar e atender demandas dos usuários. “A implantação do escritório resolveu um incômodo antigo, pois o posto que dava baixa nos pedidos de Canindé se localizava em Poço Redondo e a central mais próxima se situava em Glória. Quando havia alguma solicitação, o usuário deixava sua matrícula e esperava 24 horas. Hoje, qualquer serviço que se possa solicitar na sede da empresa pode ser feito em Canindé”, disse.

Como sempre deveria ter sido

As grandes transformações na distribuição de água de Canindé fizeram seus principais beneficiados converterem falta d’água em lembrança. E das distantes. Morador do bairro da Torre, um dos mais prejudicados pela escassez de água no município, o aposentado Aristides Fernando de Jesus, 80 anos, é um dos que comemora o fim do sofrimento diário. “Já deixamos de lavar roupa aqui vários dias por causa disso. Mas agora não tem mais isso. Nunca mais faltou água, estamos num conforto só. Dá pra fazer de tudo dentro de casa”. Residente no bairro Olaria, outra região outrora muito afetada, a dona de casa Joana Fernandes Correia, por sua vez, celebra não precisar mais ter de lavar roupa longe de casa. “Hoje lavamos tudo aqui mesmo. Com água caindo na torneira de casa tudo fica mais fácil”.

Já o aposentado Pedro Camilo Sobrinho fez questão de realizar a comparação entre os dias de escassez e a atual abundância. “Não conseguíamos lavar roupa e tínhamos que ficar pegando baldes de água com o vizinho. Já chegamos a ficar mais de cinco dias sem água por aqui. Agora está tudo resolvido. E a água também está muito boa. Se no passado a gente tinha que ficar reservando para tê-la durante a semana, hoje ela sai no chuveiro, na pia e na lavanderia sem nenhum problema”, diz seu Pedro enquanto sua esposa, Maria Oneide dos Santos, comprova o entusiasmo de ambos com um simples girar de torneira.

Morador do bairro Batalhão, local alto e também muito prejudicado pelo antigo abastecimento precário, o aposentado Edmundo Eugênio Araújo ressalta o término de tempos difíceis. “Chegamos a passar três, quatro dias sem lavar roupa, sem lavar a casa, sem lavar nada. Já chegou a faltar água uma semana aqui. Mas isso acabou. Era uma água boa, pois a Deso sempre nos forneceu água boa. O problema é que ela não chegava pra todo mundo. Se há uma coisa que não pode faltar na casa de nenhum cidadão de bem, essa coisa é água. E aqui ela está chegando, limpa, saudável e em quantidade boa. Como sempre deveria ter sido”.

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