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Em 1° de janeiro de 2007

Discurso de posse do governador Marcelo Déda Chagas, em 01 de janeiro de 2007, no Teatro Tobias Barreto.

 

Meus senhores e minhas senhoras, meus amigos e minhas amigas, meus companheiros e minhas companheiras, sou sergipano de Simão Dias e a minha vida inteira aqui travei a disputa política. Primeiro no movimento estudantil, organizando com tantos outros a resistência ao regime militar e a luta pela educação de qualidade, pela construção da democracia. Sempre fui, e não é hoje, quando os cabelos brancos começam a hegemonizar a minha cabeça que deixarei de ser, um homem de esquerda. Acredito na igualdade e no valor, acredito na luta popular como instrumento e creio, sinceramente, nas possibilidades que a humanidade tem de ser mais feliz, mais justa, longe de certas mazelas que a disputa, muitas vezes ilimitada, pelo que o lucro impõe.

Aprendi na minha trajetória que de fato o grande político que liderou a Inglaterra na resistência a Hitler, aqui citado pelo governador João Alves, tem razão. Não há regime mais desejado por quem ama a liberdade do que a democracia, e com todos os seus defeitos é o que melhor há para possibilitar a convivência entre os homens.

A democracia se alimenta da política e a política vive da disputa. A disputa permite que cada um de nós exponha os seus pontos de vista, represente os interesses sociais com quais temos base e proponhamos à população os projetos e programas que legitimarão nossa trajetória e a própria chegada ao poder.

Sou um adversário histórico do doutor João Alves. Pertenço a um partido que também enfrenta historicamente politicamente o PFL, mas devo dizer que o valor do adversário enobrece a vitória. Vossa Excelência é um líder de luta e eu fui criado na luta. Portanto, aqui hoje face a face recebendo de suas mãos o governo do Estado, é meu dever registrar que foi dura a campanha porque eu enfrentei um guerreiro.

Quero dizer que acredito na tolerância. Muitos filósofos franceses têm problemas semânticos em expressar a tolerância, mas também é uma expressão que nem a filosofia e nem a ciência política produziu outra a substituir. A tolerância não significa concordar com aquilo que as pessoas dizem. A tolerância não significa aderir àquilo que as pessoas querem, mas a tolerância é fundamental à vida civilizada e indispensável à democracia. É preciso saber ouvir quem pensa diferente. Quando não, para produzir melhores argumentos e construir maiores vitórias, mas é indispensável o respeito na política e na vida cotidiana.

Recebo o governo do Estado e assumo as altas responsabilidades que essa investidura significa. Tenho a exata dimensão do momento histórico que vivo. Tenho preservadas as minhas posições e conservadas as minhas críticas, mas sem dúvida de que nada é fruto de apenas um, nada surge de uma experiência isolada.

A construção do Estado de Sergipe se valeu dos esforços de muitos grandes ilustres sergipanos. Muitos dos quais não comungavam as minhas teses, nem apoiavam as minhas idéias, mas todos deram a sua contribuição, e o povo, do alto da sua sabedoria e exercitando a sua soberania, escolhe-os, muda-os, premia-os, pune-os, porque essa também é a grande lei da democracia. A democracia não tem donos: os governadores, presidentes e prefeitos não são monarcas, nem déspotas, cuja vontade é indiscutível e os objetivos incontestáveis.

Somos todos servidores do povo, dele recebemos os votos, dele precisamos para legitimar o exercício do nosso poder. Democracia é alternância e eu estou hoje aqui participando de um momento histórico de alternância. Uma nova força política, com suas idéias, com seus projetos, com suas as propostas, com suas as alianças, com seus ideais e com seus novos sonhos assume o Governo do Estado.

Sei, e estou intrinsecamente convencido, que se trata de um câmbio de gerações e uma mudança de geração e de pensamento. Acredito que não terei como essência de meu mandato o papel de encarnar nenhum heroísmo. O trabalho será a minha grande tarefa e as mudanças a minha grande bandeira.

Tenho humildade suficiente para entender que o meu papel hoje, ao assumir o governo e ao buscar trabalhar para atender as expectativas do povo de Sergipe, é de um porteiro do futuro, é de um alguém que vai abrir as cortinas do teatro da vida pública sergipana para que novas gerações venham à ribalta. E trago, com seu sangue novo, com suas idéias contemporâneas, com a radicalidade de seus compromissos sociais, novos tempos.

Hoje eu chego, mas sei que um dia sairei, porque a própria vida é passageira e o poder é provisório. Assumo com muita vontade de trabalhar, assumo também a tarefa gigantesca que receberei e também me lembrando da disputa gigantesca que foi o alicerce dessa vitória, uma eleição disputada, o estado inteiro mobilizado, praticamente dividido entre bandeiras verdes e bandeiras vermelhas, mas as eleições passam e Sergipe fica.

Não me move nenhum ódio, não abriga o meu peito nenhum sentimento de vingança. Acredito que o povo de Sergipe quer paz, quer tranqüilidade, quer respeito. Grande parte da minha vida pública, caro governador doutor João Alves Filho, foi na oposição, seria eu o último a desqualificar ou a não entender o valor cívico, a indispensabilidade política e o contributo à democracia que uma oposição patriótica, cívica e dura pode oferecer. Saberei respeitar a oposição e buscarei aprender com ela.

Não tenho medo de me por diante da vida como um aprendiz. A magistral lição de Sócrates traduzida na pedra singular da sua filosofia, o alto conhecimento e a compreensão de que a única coisa que sabemos é que nada sabemos, sempre foi vital na minha formação. Pôr-me diante da história de ouvidos abertos, olhos vigilantes e alma imune a preconceitos para ver as coisas acontecerem e aprender.

Quando nós elaboramos trajetórias, senhor Governador, como a que vossa excelência construiu e aqui eu estou construindo, muitas vezes somos incompreendidos, somos chamados até de radicais, mas eu aprendi com a vida, e não foi só apenas com vitórias, com a dor das derrotas também. Eu aprendi que às vezes a vida nos exige mudar, mudar muitas vezes de posição sem mudar de lado.

O lado que escolhi pra militar foi o lado das classes trabalhadoras e do povo, foi o lado de um Brasil justo e igualitário, foi o sonho de uma nação de irmão e de um país de homens e mulheres livres. A democracia, pela qual lutei, mostra hoje aqui a sua grandiosidade: um governador, duro adversário, no ritual solene da democracia, comparece com a sua família, a quem endereço meus cumprimentos e os meus respeitos, para, democraticamente, passar o bastão para seu sucessor. Gestos como esse embelezam a democracia, e gestos como esse não podem ser monopólio de ninguém, não são meus, não são do PT, são da democracia brasileira, e nós precisamos aprender a valorizar esses momentos.

Nós precisamos pedir a Deus e buscar construir na história as condições para que seja sempre assim, que a cada quatro anos, ou a oito, quando há reeleições, as pessoas se unam para ouvir, com respeito, opiniões diferentes. E saiam da solenidade muito mais do que lembrando o discurso do doutor João, os que são seus aliados, ou o discurso de Déda, os que são meus, lembrando esse momento e compreendendo que esse momento não é uma doação pessoal nem do doutor João Alves, nem de Marcelo Déda Esse momento é uma construção coletiva de todos vocês e dos que não couberam aqui porque estão nas ruas, nos povoados, nas casas, nos casebres, nos edifícios do estado de Sergipe.

Portanto, eu quero dizer a vocês todos que buscarei fazer desse mandato um instrumento a serviço do povo sergipano, que a minha porta, doutor João, jamais ficará fechada para uma boa idéia e que jamais colocarei como condição prévia para qualquer diálogo, com qualquer sergipano, a priorística concordância dele com o que penso ou com o que eu faço.

Paulo Freire uma vez veio a Aracaju e eu fui vê-lo mais de perto, porque eu o via pelos livros, ou em alguns seminários, de longe. Eu fui ao apartamento onde ele se encontrava hospedado, aqui no Hotel Del Mar… Não sei se Ana Lúcia estava naquele dia, mas de Homedes eu me lembro, e aí, conversamos… Ana estava… Conversamos com o professor, ele era secretário de Educação do município de Erondina, e com muitas dificuldades, uma hora ele parou, cofiou as imensas barbas e disse: “Aprender com quem pensa como a gente é muito fácil, o grande desafio da vida é aprender com quem pensa diferente, eu tenho me esforçado muito, eu tenho me esforçado muito”.

Meus senhores e minhas senhoras, digníssimas autoridades, caríssima vice-governadora, Marília Mandarino, de quem fui colega no colégio estadual Ateneu de Sergipe, quero, ao encerrar essas palavras, agradecer a Deus por esse momento, e ao povo, por tudo que proporcionou na minha vida pública. Quero, governador João Alves, não como adversário, mas como sergipano, cumprimentá-lo. Dizer a Vossa Excelência que ao longo dos períodos em que serviu ao estado de Sergipe, deixou as suas marcas. Eu sei, a realidade deve ser encarada, quando não gostamos dela, buscamos transformá-la, mas não pode ser ignorada. Quero dizer a Vossa Excelência que essas obras e realizações que foram suas, como idéia, concepção e execução, hoje são do povo sergipano, zelarei por todas elas. Não terei nenhum problema em protegê-las, mantê-las, fazê-las mais belas e deixá-las para que o dono delas de fato, que é o povo possa usufruí-las intensamente.

Nas políticas de seu governo, é claro, disputamos, vossa excelência defende certos pontos e eu defendo pontos exatamente contrários. Aqueles com os quais divirjo, dos quais tenho críticas, mudarei, porque o nome do meu governo é mudança. Agora, ali, onde encontrar os acertos, não me diminuirá um milímetro da minha vida e da minha biografia preservada, os projetos e programas que tenham respostas sociais e que tenham possibilidade de servir à nossa gente serão mantidos. Porque numa democracia, a continuidade é o símbolo principal da soberania popular. Não importa qual seja o agente que eventualmente dirige o Estado, as políticas públicas devem ser permanentes, não podem sofrer solução de continuidade.

Ao me despedir de Vossa Excelência, com o respeito que Vossa Excelência me merece, me permito desejar ao senhor, à senadora Maria do Carmo Alves, aos seus filhos, netos e genros, a todos que compõem a sua família, a maior das felicidades, que Deus esteja convosco e com todos os seus amigos. Que a sua possibilidade de contribuir com o Estado seja sempre presente, que se for o caso da disputa entre a oposição e Governo, é bom ter do outro lado, no enfrentamento cotidiano da política. Um líder, de que quando venci, ninguém pode dizer que derrotei um fraco, venci de um forte, mas sei que mais forte do que nós, é o povo de Sergipe e a história da nossa terra. Estaremos unidos quando Sergipe precisar e disputaremos quando a democracia o exigir. Que Deus abençoe Sergipe.

 

Veja documentos legais, demais discursos e registros fotográficos da posse do primeiro mandato do governador Marcelo Déda: http://ica.institutomarcelodeda.com.br/index.php/cerimonia-de-posse-1-mandato

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