[vc_row][vc_column width=”2/3″][vc_column_text]Kadydja Borba, da Agência Aracaju de Notícias

Preocupação com meninos de rua faz a Prefeitura de Aracaju criar projeto para dá-los educação, saúde e perspectiva de futuro

A rua é, para muitos, apenas uma via de acesso público. Porém, para cerca de 200 crianças e adolescentes aracajuanos, ela é uma via de sobrevivência. Isto foi claramente diagnosticado pela Prefeitura de Aracaju através de um mapeamento de rua realizado em agosto deste ano, e que serviu para definir algumas ações estratégicas no combate a permanência de meninos e meninas na rua.
Este mapeamento foi a primeira etapa do Projeto “Meu Caminho”, desenvolvido através da SMASC – Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania -, e que pretende realizar um trabalho de retirada destes jovens que passam maior parte do tempo fora de suas casas e da escola, privados de educação, cultura, esporte e lazer.
O projeto conta com uma equipe de 10 educadores sociais, entre eles psicólogos, pedagogos, assistentes sociais e universitários, que realizam uma ação estratégica de contato com os meninos de rua.
Segundo Selma Cavalcanti, uma das coordenadoras do projeto, é muito complicado conseguir a confiança de uma criança que vive na rua. Ela costuma definir as fases do projeto como: observação, ou mapeamento; “paquera”; e o “namoro”. A etapa de “paquera” é aquela em que o educador começa a desenvolver um contato com o menino de rua, para depois, no “namoro”, adquirir a sua confiança.
“É preciso criar um vínculo com este jovem para fazê-lo desistir das ruas. Muitas vezes, eles insistem em ficar, não querem conversa e até mudam de ponto”, explica Selma. Além da resistência dos meninos, há também a intenção de muitos destes em dificultar o trabalho dos agentes, concedendo informações erradas, como nome e endereço residencial.
Mesmo assim, quando o educador consegue convencer a criança ou o jovem a sair das ruas, ele o encaminha aos projetos sociais de retaguarda da SMASC, como o Gurilândia, o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – e o Agente Jovem.
O projeto “Meu Caminho” está sendo desenvolvido em sete pontos da cidade com maior concentração de meninos e meninas de rua. Segundo a pesquisa, a rodoviária Luiz Garcia, conhecida como “rodoviária velha”, é um dos locais preferidos por eles, pois lá existem paradas de ônibus que vêm tanto de bairros mais carentes quanto do interior.

“Um trocado aí, moço” – O que para estas pessoas é bondade, para gestores e agentes públicos se constitui como uma ação de incentivo à permanência de pessoas nas ruas. Segundo Maria Joaquina Pinto, também coordenadora do Projeto “Meu Caminho”, dar esmola vicia os meninos de rua, que começam a largar os estudos. Existem jovens que conseguem arrecadar até R$ 20 por dia trabalhando na rua.
“A gente chega a oferecer bolsa-escola, bolsa do PETI, mas eles não querem, pois o que arrecadam como pedintes é muito maior”, afirma Joaquina. “Às vezes, as pessoas preferem contribuir com esmola a ajudar projetos sociais. Tirar criança da rua não é fácil sem a sociedade”, diz, ressaltando que isto torna-se ainda mais complicado quando há pais trabalhando como agenciadores de seus filhos.
O trabalho dos educadores constata ainda que nas ruas de Aracaju existem famílias inteiras que são sustentadas há anos apenas com o que os filhos arrecadam pedindo em semáforos e praças da cidade.

Fundo Municipal – A Prefeitura de Aracaju tem uma alternativa muito mais eficaz do que o trocado, quando a intenção é investir na melhoria das condições de vida da criança e do adolescente na capital.
Para o Município, “doar esmola” pode ser substituído por “contribuir com o Fundo Municipal”, uma espécie de poupança para financiamento de projetos sociais na área de assistência ao jovem carente.
O Fundo Municipal funciona como um instrumento de captação de recursos, que tem como fonte de receita doações de pessoas físicas e jurídicas, além de recursos orçamentários do município, do Estado e da União.
A participação no Fundo Municipal é simples. Uma pessoa física pode deduzir até 6% do imposto devido apurado na declaração de renda a ser entregue em 2002. Para as pessoas jurídicas, a dedução pode ser de até 1%. O depósito pode ser feito no Banese, agência 011, conta n°300.046-5.
Para Benedita Santana, 35 anos e na rua há seis, para sustentar sua filha e neto, “quem quer ajudar, faz de coração mesmo, não é uma criança que vai comover”. Entretanto, não é o que os dados afirmam: cerca de 30,8% dos meninos estão nas ruas porque os pais se negam a matriculá-los na escola, e os usam para conseguir renda.
O Projeto “Meu Caminho”, da Prefeitura de Aracaju, age diretamente na criança e no adolescente, fazendo-os perceber que a rua não é o melhor caminho para um futuro decente e cheio de perspectivas.
Contudo, a miséria e a exclusão social são realidades que fogem à responsabilidade apenas do governo municipal. A sociedade tem um papel decisivo neste processo de combate à pobreza e ao descaso de jovens. É certo que a população caminhe junto com a prefeitura em um trabalho que promete transformar a realidade das ruas de Aracaju.

Quem é o jovem das ruas de Aracaju?

Menino, entre 11 e 14 anos de idade. Saiu cedo da escola para ajudar a família, pedindo esmola ou trabalhando como guardador, lavador de carro ou engraxate. Deixou pra trás vários sonhos e trouxe consigo a fome e a miséria de sua casa. Dorme na rua porque a enxerga como liberdade, e esta, por sua vez, é tão grande que atropela o desenvolvimento natural deste menino, agora homem formado pela vida.
Estereótipos são o que mais existe na realidade das ruas. O mapeamento realizado pela Prefeitura de Aracaju, como etapa inicial do Projeto “Meu Caminho”, serviu para traçar um perfil das crianças e adolescentes que vivem ou trabalham longe de casa.
A maioria dos pedintes mirins é formada por meninos (85,5%). Cerca de 30,4% dos entrevistados têm entre 15 e 18 anos, um período de transição entre a adolescência e a fase adulta, e que está sendo passado na rua, sem educação adequada ou qualquer tipo de formação profissional.
Em relação à escolaridade, os dados também assustam. Muitos meninos de rua ainda freqüentam a escola (54,8%), porém estão a ponto de abandoná-la. A grande maioria sai das salas de aula para sustentar a família e jamais voltam. Quando percebem, já estão adultos e não conseguem evoluir. É um paradoxo: não conseguem um bom emprego porque não têm estudo, quando o motivo de não ter estudado foi justamente o de trabalhar para sobreviver.
Cerca de 37% dos meninos e 65% das meninas de rua são pedintes, e apenas 12,6% dos jovens de rua conseguem ganhar até dois salários mínimos, enquanto 45,7% arrecadam menos de R$ 90 por mês.
Os números chocam, mas ao mesmo tempo servem para alertar a sociedade sobre a importância de se dar proteção a meninos e meninas que, desde o nascimento, estão vulneráveis à exploração de adultos, e aos perigos físicos e morais que a rua pode proporcionar.
Violência, fome, abandono e miséria estão estampados em cada rosto infantil que se encontra nas avenidas e vias da cidade. Mas também no fundo daqueles olhos ainda há um brilho que espera por ajuda, ou ao menos, por um caminho.[/vc_column_text][/vc_column] [vc_column width=”1/3″][vc_column_text]

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