A compreensão histórica do momento presente no cenário político (e suas tangências, fugas e  adjacências) é um processo constituído por diversos fragmentos que arquitetados, confrontados e exaustivamente indagados se somam, potencialmente, nos olhares e ouvidos inquisidores do futuro. Ainda que presente, passado e futuro sejam um mistério para a ciência ou se adote a concepção de que o futuro é sempre o presente, o pensamento interrogativo é resumidamente um construto de encaixe e possibilidades de reencaixes. Também, fomenta o despertar do “sono dogmático”, como o que fez referência Kant. Sabendo disso, a jornalista Monica Gugliano entrevistou José Murilo de Carvalho para a Revista Valor Econômico (publicada hoje, dia 22) questionando essa lufada histórica na contemporaneidade com a prematura morte de Campos. O professor Carvalho, que é um dos mais conhecidos e celebrados pensadores (cientista político e historiador), sabe sobre a coexistência dos pensamentos contemporâneo e não-coêtano e oferece boas fagulhas para se pensar,  além de outros temas, a ausência de lideranças. Em determinado momento, Marcelo Déda é lembrado como uma potencialidade, retirada prematuramente, dessa nossa contemporaneidade.  Vale a leitura.

Valor: Campos, assim como Marcelo Déda, governador de Sergipe que morreu no ano passado, e até Luís Eduardo Magalhães, morto na década de 90, eram considerados uma nova geração de políticos, com menos vícios e mais virtudes, no sentido de preocupações sociais, reformas etc.

Carvalho: Concordo. O regime militar teve efeito devastador na formação de lideranças políticas. Da velha geração pré-golpe, de Ulisses, Tancredo, Brizola, Covas, não resta mais ninguém. Da geração intermediária, dos que já se iniciavam na política na época do golpe, sobram poucos, como Fernando Henrique e Lula. A geração pós-golpe, a que agora entra na política, aprendeu, formou-se na escola da ditadura, a pior possível, em que a democracia nada valia e predominava o oportunismo, a luta pela sobrevivência via subserviência, a total ausência de preocupação com a política de princípios e de ideias. Alguns poucos despontaram como portadores da antiga concepção de política como serviço público, como missão, como vocação. Campos era um deles e por isso sua morte foi, de fato, uma perda nacional.

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